Cerca de 1.500 indígenas da etnia Parakanã, distribuídos em 32 aldeias na Terra Indígena Parakanã, no município paraense de Novo Repartimento, vivem do extrativismo sustentável e da preservação da floresta amazônica.
Com 351 mil hectares, homologada em 1991, a Terra Indígena (TI) mantém uma das mais bem preservadas coberturas florestais da região. Localizada entre os rios Tocantins e Xingu, abriga rica biodiversidade e desempenha papel essencial na conservação ambiental da Amazônia.
A Safra do Açaí
Entre junho e setembro, os Parakanã colhem o açaí, considerado um dos melhores da Amazônia pela cor intensa e sabor diferenciado. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a qualidade do fruto produzido na TI é excepcional.
Diariamente, cerca de cinco toneladas são colhidas e comercializadas às margens da Rodovia Transamazônica, a R$ 2.500 a tonelada. O produto segue para Belém, municípios vizinhos e até para os estados do Tocantins e Maranhão. Durante a safra, a renda das comunidades cresce de forma significativa.
A Safra da Castanha-do-Pará
Após o período do açaí, inicia-se, entre dezembro e fevereiro, a colheita da castanha-do-Pará. Diferentemente do açaí, a castanha não tem safras abundantes todos os anos. Conforme especialistas da Embrapa, as castanheiras precisam de um ciclo de recuperação após anos de alta produtividade, o que explica a alternância.
Mesmo assim, em anos favoráveis, centenas de toneladas são coletadas, garantindo outra importante fonte de renda para os Parakanã.
Cupuaçu e Outros Produtos
Outro fruto abundante é o cupuaçu, colhido entre janeiro e março. Ele também é comercializado na Transamazônica e tem sempre venda garantida. Além disso, outros produtos florestais complementam a alimentação e a economia das aldeias.
Preservação dos Rios e do Território
A TI Parakanã é banhada pelos rios Bacuri, Lontra e Pucuruí, todos bem preservados graças à proteção indígena. Essa defesa garante não apenas o sustento das comunidades, mas também contribui para a conservação ambiental de toda a região.
Desafios: Energia e Beneficiamento
Segundo o jornalista Carlos Magno, autor desta reportagem e profundo conhecedor da realidade Parakanã, a falta de energia elétrica limita o potencial econômico do extrativismo.
“Se as comunidades indígenas Parakanã tivessem energia, poderiam beneficiar os produtos da floresta e agregar muito mais valor, aumentando a renda das aldeias. É mais que justo que tenham eletricidade em todas as comunidades, já que parte do território foi alagada pelo lago da Hidrelétrica de Tucuruí. Existe um convênio com a Eletronorte, supervisionado pela Funai, mas ele não atende todas as necessidades das aldeias. Esse acordo precisa ser ampliado e melhorado”, destacou.
História e Cultura
O povo Parakanã, de origem Tupi-Guarani, foi avistado pela primeira vez em 1910, no rio Pacajá. Naquela época, eram conhecidos por realizar expedições de saque contra colonos e trabalhadores da Estrada de Ferro do Tocantins.
Hoje, são reconhecidos por seu papel fundamental na preservação ambiental e pela implementação do Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA), que fortalece a gestão do território e busca recursos para projetos de desenvolvimento sustentável.
Um Reduto de Preservação
A Terra Indígena Parakanã é um reduto essencial para a preservação ambiental e cultural da Amazônia. Contudo, ainda enfrenta ameaças externas e carece de maior apoio para garantir a sustentabilidade das aldeias e a manutenção do modo de vida tradicional.
Um Sonho de Infância
“Escrever uma matéria jornalística sobre a etnia Parakanã é um sonho que carrego desde criança. Fui criado em frente à TI Parakanã, na antiga Rodovia Transamazônica. Esse trecho, mais tarde, foi alagado pelas águas do lago da Hidrelétrica de Tucuruí, obrigando a construção de um desvio de cerca de 90 km. Meu saudoso pai, Manoel Paulo de Oliveira, era colono assentado pelo INCRA naquela região. Desde menino, eu via os Parakanã, com suas pinturas corporais e flechas, e eles sempre foram fonte de admiração e curiosidade para todos nós, inclusive para mim”.
Por Carlos Magno
Jornalista – DRT/PA 2627
1 comentário em “Extrativismo e Preservação da Floresta pelos Indígenas Parakanã”
Parabéns pelo texto, que reforça a importância desse povo, “Sonho de Infância”