De Almeirim a Canaã: exposição conecta a Amazônia do tecnobrega à região dos Carajás

A Iconopop Amazonista revela a potência do tecnobrega e da estética popular amazônica como força criativa global

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No próximo dia 3 de setembro, a Casa da Cultura de Canaã dos Carajás abre suas portas para a exposição Iconopop Amazonista, do artista-pesquisador amazônico Jonathan Camelo, contemplada no edital Casa Aberta Amazônia Paraense, promovido pela Casa da Cultura, equipamento do Instituto Cultural Vale. A mostra reúne arte digital, croquis de moda, fotografias editoriais e esculturas vestíveis inspiradas nas aparelhagens de som do Norte, propondo uma releitura da cultura amazônica a partir da estética do tecnobrega e de um olhar futurista ribeirinho.

Para Jonathan, nascido em Santarém e criado em Almeirim, trazer a coleção para Canaã carrega significados pessoais e coletivos. “É muito significativo pra mim. Acredito na importância de descentralizar a arte amazônica, tirando-a apenas do eixo das capitais e levando para territórios que também vivem intensamente os desafios e transformações da Amazônia contemporânea”, explica o diretor criativo da mostra.

O artista lembra que Canaã é marcada pela força da mineração como atividade econômica, mas também pela diversidade cultural e pelos fluxos migratórios, o que dialoga diretamente com a proposta da coleção, que trabalha ideias de utopia e distopia ribeirinha. “Mas também tem um lado íntimo. Cresci no interior, na Amazônia profunda, e trazer esse trabalho para cá é reafirmar minhas raízes. É quase como fechar um ciclo: devolver uma visão de futuro que nasce dela mesma, unindo o ancestral ao contemporâneo”, conclui Jonathan.

A presença de referências historicamente vistas como periféricas em espaços institucionais como a Casa da Cultura de Canaã dos Carajás, contribui para a construção de um futuro cultural mais democrático e representativo. É o que afirma a coordenadora da Casa da Cultura, Gabriela Sobral Feitosa, que também ressalta o caráter inovador da mostra para Canaã e seu papel na construção de um futuro cultural mais plural.

“A exposição traz um ineditismo para o município, ao apresentar a moda e o design como linguagens artísticas que dialogam com a produção cultural. Ao abordar as aparelhagens do brega como referências construídas nos territórios dito como periféricos, mostramos que manifestações antes marginalizadas passam a integrar o circuito artístico e institucional. Incluir essas referências em espaços como a Casa da Cultura contribui para dinâmicas mais diversas e representativas. Isso demonstra que seguimos alinhados à missão do Instituto Cultural Vale, que é democratizar o acesso e fortalecer a pluralidade cultural, conectando a potência do Pará às realidades locais de Canaã”, afirma.

Para o supervisor educativo da Casa, Jairon Lopes, mostras expositivas como a ‘Iconopop Amazonista’ proporcionam múltiplas possibilidades de trabalhos junto aos alunos da rede pública e privada de Canaã dos Carajás.

“Em um primeiro momento, será realizada a mediação da exposição. Na sequência, os estudantes terão a oportunidade de refletir sobre temas como a plasticidade e estética de uma Amazônia situada entre a tradição e a modernidade. Além disso, será desenvolvida uma atividade prática, na qual os alunos poderão exercitar suas habilidades manuais por meio do recorte de tecidos e da criação de modelagens inspiradas na exposição vivenciada na Casa. Um trabalho que estimula a criatividade e a imaginação das crianças e adolescentes a partir de atividades artísticas e manuais”, ressalta.

Sobre a exposição

A Iconopop Amazonista revela a potência do tecnobrega e da estética popular amazônica como força criativa global. Ao transformar corpos em suportes de narrativas híbridas, Jonathan une tradição e futuro, combinando tradição ribeirinha com elementos de futurismo popular e reafirmando que a Amazônia é capaz de se reinventar e projetar novas imagens de si mesma.

Na mostra, moda, arte e tecnologia se cruzam para criar novas imagens da Amazônia: festivas, potentes e reimaginadas. O tecnobrega, conhecido por sua fusão de ritmos eletrônicos e influências regionais, emerge como um movimento artístico plástico visual crucial sob a visão do ribeirinho futurista. As aparelhagens em questão não são apenas instrumentos de entretenimento, são manifestações tangíveis da resiliência e criatividade das comunidades ribeirinhas.

A exposição não apenas honra as raízes culturais ancestrais das comunidades ribeirinhas amazônicas, mas também projeta essas tradições em um futuro imaginativo e dinâmico.

Sobre o artista

Jonathan Camelo é artista-pesquisador amazônico, nascido em Santarém e criado em Almeirim, cidade ribeirinha onde a distância se mede em horas de barco e a cultura pulsa em ritmos próprios. A formação em Design de Produtos se misturou, desde cedo, com a vivência no mercado criativo paraense, onde encontrou na moda, no figurino e na estética popular os caminhos para construir minha poética visual. Seu trabalho se move entre a tradição e o desejo de futuro, entre o que pulsa nas periferias da Amazônia urbana e o que pode se tornar símbolo de pertencimento e invenção estética.

SEVIÇO

Exposição Iconopop Amazonista

Abertura: 03/09

Horário: 19h

Visitações: 04/09 a 03/01, exceto domingos e feriados

Local: Casa da Cultura de Canaã dos Carajás

Público: livre

Informações: (94) 99220-3451

(Texto: Natália Mello)

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