Celso Sabino: “Trabalho para que todo o estado do Pará sinta os efeitos positivos dessa COP”

Em entrevista ao Blog, ministro do Turismo discute os preparativos para a COP 30 e a responsabilidade de permanecer no cargo em meio à divergência com o União Brasil
(Foto: Kebec Nogueira/Metrópoles)

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Paraense de Belém, o deputado federal licenciado Celso Sabino ocupa, desde agosto de 2023, o comando do Ministério do Turismo. Desde então, ele se consolidou como figura de destaque no cenário nacional ao equilibrar o êxito em sua missão de impulsionar o setor turístico com as preparações para receber um evento de proporções internacionais em sua cidade natal.

Durante conversa com o Blog do Zé Dudu, o ministro falou sobre seus esforços para ampliar o apelo ao turismo não só brasileiro como paraense; a importância de dar continuidade aos projetos que está tocando; e o embate com o União Brasil sobre a sua permanência no governo federal.

Números superlativos e falta de reconhecimento do partido

Por meio de políticas para a ampliação da conectividade aérea internacional e doméstica, o Ministério do Turismo (MTur) tem intensificado a representatividade brasileira em feiras do exterior, assim como iniciativas de promoção digital e investimentos na infraestrutura turística em todas as regiões do país. 

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstram o sucesso de Sabino à frente da pasta: em comparação com o mesmo período, houve um crescimento de 6% em relação a 2024, e aumento por 15 meses seguidos. O Brasil bateu recorde ao receber cerca de 7 milhões de visitantes estrangeiros até setembro, atingindo 98,5% da meta prevista para 2025 no Plano Nacional de Turismo (PNT) 2024-2027. A expectativa é que o Brasil receba 10 milhões de turistas ainda esse ano.

Trata-se de uma injeção de R$ 29,1 bilhões na economia brasileira entre janeiro e agosto desse ano, em despesas como hospedagem, alimentação, transporte, lazer e compras. Um crescimento superior a 11% em relação ao mesmo período em 2024, de acordo com o Banco Central.

Além disso, segundo pesquisa do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC) divulgada na última sexta-feira (17), o país é o sétimo do planeta onde o turismo mais gera postos de trabalho. Com uma previsão de mais 8 milhões de vagas diretas e indiretas em 2025, o setor se confirma como força motriz da economia brasileira.

A informação é reforçada por dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do Trabalho e Emprego, que indicam setores ligados ao turismo como responsáveis pela criação de 140,8 mil empregos de carteira assinada entre janeiro e agosto desse ano. Destes, 19.450 só no último mês de agosto. 

Apesar das vitórias que trouxe para o Brasil por meio do seu trabalho na pasta, Celso Sabino foi um dos convocados a deixar o cargo quando o seu partido, o União Brasil, rompeu com o governo Lula e determinou a saída dos filiados do Executivo Federal. “Eu acredito que o partido tomou uma decisão açodada e equivocada,” opinou o ministro. “Eu não tenho conhecimento, em minha jovem carreira política, de um partido que, com tanta antecedência das eleições, já tenha uma posição definida de qual candidato não irá apoiar de jeito nenhum”.

Ele chegou a declarar sua saída, mas retrocedeu no início de outubro. “O principal motivo que me fez não sair do ministério foi ter responsabilidade,” Sabino resume. “Responsabilidade com os projetos que venho tocando, responsabilidade com as ações que a gente vem executando, muitas delas em fase final de produção”.

No momento, se encontra afastado do partido e destituído da sua presidência no estado do Pará, pendendo um processo de expulsão. “Não acredito que essa foi a decisão mais acertada e tenho tentado conversar com o meu partido para ainda sensibilizá-los. Para que a gente possa chegar a um termo que o melhor para o povo, o melhor para as pessoas, aconteça”, disse o ministro.

Durante seu mandato na Câmara de Deputados, em 2022, Sabino presidiu a Comissão Mista de Orçamento (CMO), se tornando o primeiro paraense a fazê-lo. Apesar de uma carreira que considera curta na política, cultivou relações profissionais e de amizade dentro do Congresso, inclusive com presidentes de diversos partidos, o que refletiu nos convites que recebeu quando o processo veio a público.

No entanto, ele se mantém firme no comprometimento com o trabalho que realiza à frente do Ministério do Turismo, sobretudo com a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30), que o Brasil receberá no próximo mês. “Eu confesso a você que não estou procurando partido. Até o dia 22 de novembro, o meu partido político se chama COP 30”, justifica.

COP 30: legado não só para Belém

A COP é o principal evento da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas. Ela ocorre anualmente, oferecendo uma plataforma para que líderes mundiais, representantes da comunidade científica e da sociedade civil discutam e encontrem soluções globais voltadas para a causa ambiental. Em 2025, Belém será sede da primeira edição realizada na Amazônia, entre os dias 10 e 21 de novembro.

“Além de ser uma COP muito importante para marcar a transição entre o planejamento e o início das execuções, vai ser a COP da floresta, COP da verdade. Será também a COP mais inclusiva e mais participativa que a Organização das Nações Unidas já fez”, declara o entrevistado.

Belém recebe nova sinalização turística bilíngue para a COP 30 (Foto: Alessandra Serrão/MTur)

Belenense, o ministro Celso Sabino tem um investimento pessoal no sucesso do evento. Para atender ao público esperado de 50 mil pessoas, a capital paraense recebeu, além de uma nova sinalização bilíngue, investimento de mais de R$ 300 milhões do Fundo Geral de Turismo (Fungetur) para a construção de novos meios de hospedagem.

A população também está sendo capacitada para atuar no evento, com mais de 20 mil pessoas na região metropolitana de Belém recebendo qualificação profissional na área do turismo: idiomas, condução de veículos turísticos, hotelaria, gastronomia, por exemplo.

“A cidade de Belém, sem dúvida nenhuma, vai receber um grande legado, com a construção de novas áreas de convivência, melhoria do saneamento da cidade, construção de novas vias, pavimentação, novo aeroporto, novos portos,” lista Sabino. “Mas eu tenho trabalhado para que a COP não fique só em Belém”.

Segundo ele, a orientação veio diretamente do presidente da República: garantir que todo o estado possa, de alguma forma, sentir que o evento está ocorrendo no Pará – absorvendo o legado, os efeitos e benefícios da COP 30 desde a capital até o interior. “Quer seja participando com a hospedagem de pessoas; realizando eventos pré-COP, pós-COP; trazendo mão de obra – porque a cidade de Belém, agora, já está próxima ao pleno emprego. Você não consegue mais contratar ninguém na cidade porque está todo mundo trabalhando”, explica.

Valorização do Pará no turismo

Paraense com orgulho, Celso Sabino invocou o interesse do povo do estado na nota oficial em que comunicou que permaneceria no Ministério do Turismo. Tal sentimento lhe move ao longo do seu mandato como titular da pasta, podendo ser visto nas batalhas que travou durante a organização da COP 30 e em suas ações fora desse contexto, quando luta para valorizar o potencial turístico do Pará em meio ao cenário nacional e internacional.

Atual presidente do Conselho Executivo da ONU Turismo, Sabino vem colocando seu peso atrás não só do Brasil, mas de cidades paraenses para disputar as sedes de eventos de escala mundial. Foi o que aconteceu com o Fórum Mundial de Gastronomia, que ano que vem acontece em Santarém, oeste do Pará.

Essa estratégia tem refletido em números recordes no estado, com mais de 33 mil turistas estrangeiros em 2024 – uma alta de 53% em relação ao ano anterior. Em 2025, as expectativas são ainda melhores: entre janeiro e agosto, já foram cerca de 18 mil visitantes internacionais, devendo ocorrer um salto com a realização da COP 30, em novembro.

Nacionalmente, a pasta vem apoiando eventos locais por todo o estado, como o Festival do Sairé, em Alter do Chão; o Festival Folclórico das Tribos Indígenas de Juruti (Festribal); o Festival de Cultura e Jogos Indígenas do Xingu, em Altamira; o Parárraiá, celebração de São João de Belém; além de ter uma forte presença no Círio de Nazaré desse ano.

Festival do Sairé 2025, onde Sabino anunciou a escolha de Santarém para sediar a próxima Feira Mundial de Gastronomia (Foto: Alessandra Serrão/MTur)

Outro exemplo da valorização da cultura estadual foi a iniciativa de buscar na ONU Turismo a nomeação de Belém do Pará como a Capital Mundial do Brega, em paralelo à aprovação de um projeto de lei no Senado Federal que concederia o título de capital nacional do gênero musical a Recife. Ou mesmo a intercessão contra um edital que proibia ingredientes típicos da culinária paraense nos serviços alimentícios da COP 30.

“Eu penso que a gente tem contribuído para melhorar o turismo, para melhorar a autoestima do povo paraense, e para melhorar a nossa infraestrutura como um todo”, conclui Celso Sabino.

As ações do ministro não passaram despercebidas por representantes do setor turístico brasileiro, que elogiam suas políticas públicas e os esforços para “ampliar a presença do turismo na agenda econômica nacional”, explica Ana Carolina Medeiros, presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagem (Abav Nacional), em entrevista para o CNN Brasil.

Essa aprovação seria espelhada pelo chefe do Executivo. Nos bastidores do Palácio do Planalto, o presidente Lula já teria afirmado que Sabino não precisa do apoio de partidos para permanecer no cargo.