Vale planeja nova ferrovia e porto no Pará para exportar minério de S11D

Se ideia sair do papel, Marabá e Barcarena devem se tornar maiores redutos de investimentos do país. Em apresentação feita a investidores ontem, Vale fala em “desengargalar” Maranhão.

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A possibilidade de ampliação da capacidade da mina de S11D, na Serra Sul de Carajás, é cada vez mais urgente e real para a Vale, diante de perdas com paralisação da produção no Sudeste do país e frente à demanda do mercado internacional. Tanto é que, para concretizar a empreitada, a mineradora multinacional já tem cartas na manga e todas elas focadas em logísticas no Pará: uma nova ferrovia (cortando verticalmente o estado, adiante de Marabá a Barcarena) e um porto (também em Barcarena, algo inédito em se tratando de Vale).

As informações foram divulgadas ontem (18) por meio de uma apresentação da empresa a investidores. O Blog do Zé Dudu teve acesso com exclusividade ao PowerPoint que os representantes da mineradora utilizaram para dar ciência ao mercado sobre perspectivas futuras e constatou que a mineradora pretende estabelecer “um novo pacto com a sociedade: atuar como vetor para gerar riqueza às comunidades, promovendo o desenvolvimento sustentável”.

Segundo apurou o Blog, para ampliar a capacidade de S11D, das atuais 90 milhões de toneladas de minério de ferro (a ser atingida em 2020) para 150 milhões de toneladas, será necessário erguer um poderoso complexo de logística. Se levar adiante o projeto, a mineradora vai mexer, mais uma vez, na configuração da geografia econômica do estado. Este ano, entre janeiro e início de junho, a Vale retirou R$ 22,5 bilhões em recursos minerais do Pará, segundo dados da Agência Nacional de Mineração (ANM) levantados pelo Blog.

Entrelinhas logísticas

A Vale poderia utilizar, com algumas adaptações, a malha atual que liga Canaã dos Carajás por meio de ramal ferroviário à Estrada de Ferro Carajás (EFC), que se inicia em Parauapebas e vai o porto de Ponta da Madeira, em São Luís (MA). No entanto, a empresa programa construir um porto na vila do Conde, em Barcarena, para, segunda ela, realizar o “desengargalamento” do terminal existente no Maranhão. Assim, poderá escoar o minério de Parauapebas — como sempre fez — pelo Maranhão e o minério de Canaã pelo Pará. Para isso, a EFC ganharia um “ramalzão” de trilhos de 400 quilômetros, conectando um trecho adiante de Marabá a Barcarena.

De acordo com a Vale, a ampliação da capacidade de S11D com o consequente desenvolvimento da infraestrutura associada (de ferrovia e porto) vai “permitir oportunidades de negócios e legado positivo para o desenvolvimento local no estado do Pará”. Com a exportação de minério de ferro pelo Pará, rapidamente o estado deve se posicionar entre os três maiores exportadores do país e ostentar o maior superávit comercial.

A mineradora não informou a estimativa de investimos na ideia, mas a julgar pelo aporte realizado na ampliação da capacidade logística do Sistema Norte para sustentar o nascedouro de S11D, desde o primeiro semestre de 2014, quando desembolsou 7,146 bilhões de dólares, o Blog do Zé Dudu prevê que a empresa desembolsará a mesma quantia. Para tocar S11D, não é demais lembrar, a Vale providenciou a expansão de aproximadamente 570 quilômetros de ferrovia, construção de um ramal ferroviário de 101 quilômetros, aquisição de vagões e locomotivas e expansão portuária no terminal de Ponta da Madeira.

Hoje, o minério de ferro é o 3º produto mais exportado do país, de acordo com dados do Ministério da Economia referentes ao período entre janeiro e maio deste ano, com movimento de 7,68 bilhões de dólares e tendo a China como principal destino. Com a ampliação de S11D, o minério alçará ao posto de produto mais exportado do país e consolidará o Pará como maior produtor global da commodity de maior pureza.

Concessões ferroviárias

Enquanto a Vale divulgava suas pretensões, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) aprovava ontem a prorrogação dos contratos da Estrada de Ferro Carajás e da Estrada de Ferro Vitória-Minas, ambas as quais operadas pela multinacional. Essa é uma etapa importante para a renovação das concessões. Agora, o processo segue para apreciação do Ministério de Infraestrutura e do Tribunal de Contas da União.

Quando efetivada, a prorrogação das concessões vai antecipar investimentos que seriam feitos apenas a partir de 2027, segundo a ANTT. Um desses investimentos, diz-se nos bastidores, é a construção de uma nova ponte rodoferroviária sobre o Rio Tocantins, em Marabá, com custos estimado em R$ 1,8 bilhão. Representantes da mineradora têm feito uma maratona a autoridades e lideranças de Marabá neste mês de junho apresentando o escopo da nova ponte, que terá 2.365 metros e será erguida 300 metros à montante (acima) da ponte atual.