Sequestro de células e tempestade inflamatória são as armas da covid-19

Reportagem especial do correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília, que mergulhou a fundo para investigar como ocorre, quais são as armas, e como se dá o ataque do novo coronavírus SARS-CoV-2, que já ceifou a vida de 15 mil brasileiros

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Brasília – Desde que a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou pandemia mundial pela ocorrência nos cinco continentes de um novo tipo de coronavírus, os números são assustadores. No boletim atualizado no sábado (16), a OMS contabiliza 4,5 milhões de casos confirmados, 302 mil mortes confirmadas em 182 países. O Brasil ocupa a 6ª posição global em número de casos. A reportagem do Blog do Zé Dudu saiu a campo para investigar como se dá o processo de ataque do vírus nos seres humanos.

Se considerarmos o número de mortos e infectados, e ainda as consequências laterais na economia mundial, a Covid-19 venceu a batalha contra as células de defesa e transformou doentes em vítimas fatais mundo afora. Antes de entender por que alguns pacientes estão em maior risco, e como aprimorar a defesa, é preciso conhecer as “táticas” do vírus na hora de atacar o corpo humano.

Embora seja uma doença nova, descoberta em dezembro de 2019 na China, a família do vírus causador da Covid-19, os coronavírus, são velhos conhecidos dos médicos. A diferença é que o novo coronavírus, ou o SARS-Cov-2, como foi nomeado, tem uma capacidade de transmissibilidade muito significativa, sendo capaz de infectar mais facilmente e um número maior de pessoas. Quando se estabelece no organismo humano, a covid-19 provoca o sequestro de células e uma tempestade inflamatória no infectado.

Cada pessoa infectada pelo vírus da gripe A, o H1N1, é capaz de contaminar outras 1,5. No caso da Covid-19, cada pessoa repassa o vírus a outras 2,75. A título de comparação, o vírus do sarampo é repassado a outras 15 pessoas, em média, de acordo com dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Infectologia.

Sequestro das células

Apesar dessa diferença de transmissão, quando o coronavírus entra pelas vias do nariz, boca e olhos da pessoa, o ataque é basicamente igual a de qualquer outro vírus: “sequestrando” as células do hospedeiro. A descoberta de como o vírus se infiltrava no corpo humano foi feita no início de março, por pesquisadores chineses.

Para entrar nas células do corpo humano, o vírus se liga a um receptor enzimático, o ACE 2 (ou enzima conversora de angiotensina 2, ECA-2, em português), presente na membrana celular e, ao fundir a própria membrana com a da célula, “joga” para dentro a sua carga genética. Ali estão todas as informações necessárias para que possa se reproduzir.

Durante esse período, chamado de incubação, a pessoa pode não perceber nada grave, visto que os sintomas tendem a aparecer entre cinco a seis dias depois do contato com o vírus, conforme dados da OMS.

Tempestade de citocinas

Uma vez que o vírus começa a se multiplicar, o sistema imunológico, das células de defesa, se atenta à presença desse corpo estranho e passa a agir também. Uma das reações do organismo humano tem sido a chamada “tempestade de citocinas”.

Citocinas são substâncias produzidas pelo sistema imunológico que têm por característica instigar uma reação inflamatória. Embora aconteça em qualquer pessoa, entre aqueles com fatores de risco para a Covid-19, a reação do corpo pode ser mais severa. Isso explica a pneumonia, ou a inflamação dos pulmões comum entre os pacientes desta doença, entre outros órgãos que também podem ser afetados, como o coração, fígado, rins e intestino.

“A tempestade de citocinas vai fazer com que a pessoa tenha uma produção imensa de substâncias inflamatórias, que podem atingir o pulmão, fígado, rins e intestino. O médico pode se confundir, achar que a pessoa está com uma apendicite (inflamação do apêndice) ou colecistite (inflamação da vesícula biliar) aguda, mas é causada pela “tempestade de citocinas”, explica Marcelo Bossois, médico imunologista, pesquisador assistente do serviço de Terapia Gênica do laboratório do prof. Jacques P. Tremblay, da Universidade Laval, no Canadá.

Na tentativa de controlar essa tempestade, pesquisadores estudam o uso dos tratamentos com anticorpos monoclonais, que acabam por bloquear a ação dessas substâncias, visto que os corticoides não deram o resultado esperado.

Danos ao pulmão

Embora para 80% das pessoas que se contaminarem pelo novo coronavírus, os sintomas tendem a ser brandos e mais leves, uma em cada cinco terá de lutar uma guerra mais difícil contra a Covid-19. E isso perpassa cuidar dos pulmões.

“Sabemos que alguns pacientes, principalmente aqueles em grupos de risco (idosos, com problemas cardíacos e diabéticos), e os que fogem da curva de confiança (fogem da regra), desenvolvem uma doença mais severa, com características da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG)”, explica Rubson Borralho, médico hospitalista do Hospital Santa Lúcia, de Brasília.

Entre as pessoas com sintomas que caracterizam a SRAG (como dificuldade para respirar, oxigenação sanguínea reduzida e alterações no pulmão), a resposta à doença é, em geral, pior. “O pulmão dele faz uma pneumonite viral muito grave. As células do pulmão não conseguem mais fazer a troca do oxigênio pelo gás carbônico, e a gente perde essa interface pulmonar. A partir desse momento, as células sofrem pela falta de oxigênio no sangue e, quando o paciente desenvolve a síndrome, ele precisa de um suporte ventilatório, pois não consegue colocar o oxigênio para dentro sozinho”, explica Borralho.

O equipamento age, então, forçando a entrada de oxigênio nos pulmões e também forçando a saída. “Não podemos fazer uma ventilação não invasiva, porque devido a alta infectividade do coronavírus, temos que evitar que as gotículas do paciente se espalhem. Por isso é preciso que o suporte ventilatório seja invasivo”, argumenta o médico sobre a necessidade do uso de respiradores que demandam uma sedação e entubação do paciente.

Para o m;edico Reginaldo Oliveira Filho, médico do Hospital São Vicente, de Curitiba, um dos maiores especialistas em pulmão do país, esse aparelho –– o ventilador mecânico –– , visa garantir que a pessoa tenha a ventilação adequada, apesar de o pulmão estar sofrendo, para que o sistema de defesa tenha mais tempo para eliminar o vírus. “Sabemos que o paciente com uma insuficiência respiratória pode evoluir para uma parada cardiorrespiratória. A ventilação é para dar tempo ao corpo se recuperar”, reforça o médico.

Até o momento, não há nem medicamentos que, comprovadamente, atuem contra o novo coronavírus, e nem vacinas aprovadas para a prevenção, embora já esteja sendo elaborado as estatísticas, não oficiais, de médicos que estão ministrando, com a autorização por escrito de seus pacientes uma combinação de remédios como a Hidroxicloroquina, Prednisona, Eliquis, Codeína dentre outras drogas, dependendo de cada histórico médico do infectado.

Médicos que atuam no Sul do Pará atestam recuperação total, sem sequelas, de todos os seus pacientes utilizando a combinação desses remédios.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.