Prefeituras mais ricas convivem com quase 2,5 milhões de pobres “de marré-marré-marré”

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No Pará, funciona o contrário das sociedades que se esforçam em erradicar a miséria. A pobreza tem tomado conta dos municípios paraenses e roubado a cena, mesmo daqueles comandados por prefeituras riquíssimas. As 32 prefeituras mais bem sucedidas do estado deveriam, em tese, servir a 5,34 milhões de habitantes, mas, na realidade, convivem inertes com um batalhão de 2,32 milhões de habitantes em situação de pobreza — 54% dos paupérrimos do estado. São cidadãos que sobrevivem com renda per capita de menos de meio salário mínimo por mês, de acordo com informações levantadas pelo Blog do Zé Dudu junto ao Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), e que estão alheios aos bilhões e milhões que entram nos cofres públicos.

Belém, por ser o mais populoso município, concentra o maior exército absoluto de pobreza, com quase 490 mil indivíduos nessa situação. Em termos relativos, no entanto, a situação mais dramática é a da Prefeitura de Acará, que, embora arrecade R$ 126,8 milhões, tem 75,6% dos 55,5 mil habitantes que toma conta em situação de pobreza.

As prefeituras de Monte Alegre (receita de R$ 136,6 milhões), Breves (R$ 215,4 milhões) e Viseu (R$ 126 milhões) também convivem com taxas cavalares de população empobrecida: respectivamente 75,6%, 74% e 70,7%. Só no município de Breves, por exemplo, dos cerca de 102 mil habitantes, mais de 75 mil são baixa renda.

Na ordem seguinte, as prefeituras de Abaetetuba (R$ 262,1 milhões), Portel (R$ 140,1 milhões), Cametá (R$ 237,3 milhões), Moju (R$ 148,3 milhões), Benevides (R$ 131,5 milhões) e Itaituba (R$ 253,7 milhões) governam municípios onde a pobreza se situa entre 60% e 70% da população. O pior caso nesse grupo é o de Abaetetuba, onde 106,5 mil — dos 156 mil habitantes — estão em situação de pindaíba.

A pobreza não enxerga nem mesmo os municípios tecnicamente mais ricos, como Parauapebas, Marabá e Canaã dos Carajás. No primeiro, que tem uma das prefeituras mais abastecidas do país, há 64 mil na pobreza absoluta, segundo dados de dezembro do MDS. Em Marabá, outra que está na lista das 100 prefeituras brasileiras mais ricas, são encontrados 95 mil baixa renda. E em Canaã, município que tem a prefeitura que mais enrica na nação, os pobres já se aproximam de 20 mil.

Os números, tanto de progresso financeiro das prefeituras quanto de pobreza da população à margem da bonança, revelam atrás de si mesmos a falência das políticas públicas municipais que, mesmo em meio a muitos recursos, historicamente não têm dado conta de amparar milhares de cidadãos desassistidos de serviços básicos e de dignidade, enquanto a conta bancária das administrações não para de encher e esvaziar-se freneticamente.