Portel é líder na expansão do agronegócio do Brasil, diz Agricultura

Maior produtor nacional de commodities de extração vegetal e segundo maior produtor mundial de açaí, município se destaca no campo agrícola, mas padece no campo social.

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Nem todo paraense sabe onde fica Portel na fila do pão. Mas o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) acaba de localizar o município que se situa na mesorregião da ilha de Marajó: Portel está na lista nacional da expansão do agronegócio no Brasil, na conjugação entre plantações permanentes e temporárias para a produção de riquezas nacionais.

Esta semana, o Mapa cruzou dados próprios com os do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para nortear o mercado e a sociedade sobre os rumos da fronteira agrícola no período entre 2014 e 2016. As pesquisas de Produto Interno Bruto (PIB) e da Produção Agrícola Municipal (PAM), ambas as quais divulgadas com exclusividade pelo Blog do Zé Dudu, foram determinantes.

Entre os 5.570 municípios brasileiros, Portel é o 5º com a maior expansão da produção de riquezas produzidas no campo, com 25,7% de crescimento, num ranking dominado pelas localidades paulistas de Guaíra (51,98%) e Miguelópolis (36,76%) e os mato-grossenses Nova Ubiratã (36,7%) e São Félix do Araguaia (32,26%). A lista também tem a presença dos paraenses Cametá, na 18ª colocação e 15,73% de avanço, e Paragominas, na 21ª e taxa de crescimento de 14,9%.

Príncipe da delícia

O Blog do Zé Dudu embarcou até Portel para conhecer um pouco da realidade econômica local. Com 61 mil habitantes, a maior parte moradores de aglomerados rurais e áreas isoladas, Porte é o maior produtor nacional de produtos oriundos da extração vegetal. Em 2017, por exemplo, saíram do município R$ 224,27 milhões em commodities florestais. Desse montante, R$ 217,8 milhões foram decorrentes de madeira em tora.

Mas o reinado de Portel é, no fundo, na produção agrícola. Com R$ 908,34 milhões movimentados em plantações ao longo de 2017, esse pedaço de terras marajoara é o 2º maior produtor do mundo de uma delícia à qual quase todo brasileiro se rende: o açaí. De acordo com o IBGE, dois anos atrás Portel totalizou operações de R$ 867,2 milhões em açaí, um volume financeiro só superado por Igarapé-Miri (R$ 1,82 bilhão).

Em 2017, a produção de açaí de Portel foi simplesmente sete vezes maior que a arrecadação inteira da prefeitura, de R$ 120,77 milhões, de acordo com dados levantados pelo Blog junto à Secretaria do Tesouro Nacional (STN). Entre 2015 e 2017, a produção de açaí local prosperou fantásticos 13.300%, nada visto na história.

Em termos de PIB, o açaí e as demais commodities agrícolas — como mandioca, laranja, banana e milho que os portelenses produzem — respondem por 48% da economia municipal, quase toda exportada para abastecer grandes redes de alimentos, que faturam bilhões com os sabores paraenses.

Lado oculto da pobreza

Apesar dos indicadores agroeconômicos expressivos e que agora constam do radar do Ministério da Agricultura, Portel é, hoje, um dos municípios com mais elevada taxa de pobreza da Região Norte, segundo dados de 2018 do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Lá, 40,8 mil habitantes (ou 66,8% da população) sobrevive com até meio salário mínimo, isto é, está abaixo da linha da pobreza.

Mesmo quem trabalha formalmente, no total de 4 mil pessoas, o rendimento médio mensal é de R$ 2.062,84 — pouco mais de R$ 500 numa família “padrão” composta por quatro pessoas. A taxa de informalidade em Portel é altíssima, com muitos trabalhadores recrutados para ajudar a erguer uma riqueza teórica demais e que não passa do campo das estatísticas, sem, de fato, chegar à população que dela precisa. Essas são velhas contradições do pobre rico Pará e seus municípios.

6 comentários em “Portel é líder na expansão do agronegócio do Brasil, diz Agricultura

  1. Carlos Ramos Responder

    Se fossem cobrados os Impostos Sobre Serviços (ISS) da madeira em tora movimentada – que varia de 1% a 5% do valor da nota fiscal apresentada – Portel arrecadaria em 2017 entre 2,1 milhões a 10 milhões de reais para seus sofres. Que coisa né? Eu prefiro apostar na agroecologia, que inclui as pessoas. Na agroecologia que cuida da terra. Se o agronegócio se mantiver piramidal em concentração de renda e de terras, não se mostrará evoluído. Continuo neste debate por justição ambiental e econômica.

  2. Carlos Ramos Responder

    Uma leitura que precisa de um complemento. Sou portelense. Portel é a pura contradição de suas riquezas: movimentação de 217 milhões de reais com madeira em tora (IBGE/PEVS 2017) sem a arrecadação em Imposto Sobre Serviços (que varia de 1 a 5% da nota fiscal movimentada no transporte) à altura das necessidades do município. São 10 milhões de reais arrecadáveis que se juntados aos 16,9 milhões de reais de Fundo Participação dos Municípios em 2017 ajudaria no suporte para a população local.

    A riqueza sai, a pobreza fica. Não precisamos do agronegócio concentrador de terras e de dinheiro e sim da agroecologia para muitos.

    EI BALSA!

    Baía de Melgaço, 01 de novembro de 2014.

    Voou a tesoura
    Pra longe da queda
    E uma preguiça caiu no rio
    Rasgou o cipó
    Com a minha vida
    E jovens foram caindo um a um

    Ei Balsa! Ei Balsa! Balsa volta aqui!
    Que levas? Que levas? Que levas daqui?

    Levas o que tenho!
    E o que não tenho!
    Rico lenho!
    Pobre venho!
    Pobre massa!
    Não mais caça!
    Longe passa!
    A ricaça!
    Tira graça!
    Lá da balsa!
    Nota falsa!
    Velha valsa!

    Faltou-me abrigo
    Pouca parede
    E hoje choveu na minha rede
    Mal tenho casa
    Ralo assoalho
    E um morcegão visitou minha filha

    Ei Balsa! Ei Balsa! Balsa volta aqui!
    Que levas? Que levas? Que levas daqui?

    Toram tudo!
    E futuro!
    Se apuro!
    Testa um furo!
    É o sistema!
    Que condena!
    Tem um lema!
    Pobre pena!
    Rico encena!
    Na novena!
    Reza ao esquema!
    Mete a lenha!

    Mil angelins
    E um bocado
    De louro-faias que quase não vejo
    Tão nobre ipê
    Vai humilhado
    Vendido por uns parcos trocados

    Ei Balsa! Ei Balsa! Balsa volta aqui!
    Que levas? Que levas? Que levas daqui?

    Maçaranduba!
    Cupiúba!
    Itaúba!
    Minha culpa!
    Timborana!
    Piquianara!
    Quanta grana!
    Cedrorana!
    Mata rala!
    Medo cala!
    Surge a mala!
    De mudança!
    Tem Mudança??
    Tem Mudança??
    Tem Mudança??

    Pantoja Ramos
    Do site Recanto das Letras

  3. Carvalho Responder

    Muito boa a reportagem mostra os dois lados de um Pará que os governantes insiste em não ver: o Pará rico em abundâncias naturais e o Pará pobre de pessoas passando fome. Parabéns!!

    • Jocimar Mendonça Responder

      Parabéns pela matéria, retrata o lado social daqueles que por opção migraram para a cidade vivendo de bolsas sociais ocupando os bolsões das favelas por opção própria e sem acanhamento social deixaram de produzir até seus alimentos no campo… Portel tem potencial na pecuria e pro agronegócio em geral, limitado por falta de politica pública para obtenção do título de posse individual para o produtor rural

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