UFPA testa plataforma para sistematização de dados socioambientais do Pará

Nova tecnologia visa assistir na regulação fundiária urbana do estado
Moradora do Bairro Cabanagem acompanha sistematização de informação do lote no Sarfcon (Foto: Renato Neves)

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A Comissão de Regularização Fundiária da Universidade Federal do Pará (CRF-UFPA) testou, nesta última quinta-feira (29), o aplicativo denominado Sistema de Apoio à Regularização Fundiária e Conformidade Socioambiental Urbana (Sarfcon) para coletar dados de cadastro e desenho técnico do lote na moradia de Pedro Carneiro Neto e Gilda Monteiro Carneiro, residentes no Bairro Cabanagem, em Belém. O aplicativo, que opera em um tablet, se trata de uma plataforma inovadora de processos, procedimentos, capacitação e assistência técnica em regularização fundiária urbana, além de garantir um suporte operacional para coletar e sistematizar dados socioambientais, de forma on-line e off-line, em áreas urbanas e rurais. 

Participaram do teste de aplicação da tecnologia social em campo o engenheiro Renato Neves, o geógrafo Cleison Costa, o engenheiro sanitarista Daniel Mesquita, e a arquiteta Myrian Cardoso – todos integrantes da Comissão. O aplicativo Sarfcon aprimora a sistematização dos dados socioeconômicos das famílias e coleta as medidas e o desenho técnico dos lotes nos bairros, além de fazer o registro fotográfico, documental e coletar a assinatura dos moradores. “Os dados sistematizados ficarão hospedados na Central de Suporte de Assistência Tecnológica à Regularização Fundiária e Pacificação de Conflitos Socioambientais Urbanos do Estado do Pará, contribuindo para prevenir conflitos de natureza socioambiental, habitacional e sanitária nas cidades,” esclarece Myrian.

Moradora observa explicação do funcionamento o Sarfcon (Foto: Renato Neves)

Estudos fundiários e socioambientais realizados pela CRF-UFPA em 1.935 lotes, localizados no entorno das terras da universidade, demonstraram que cerca de 71% dos lotes (1.366 terrenos) têm desconformidades urbanísticas, de acordo com legislação municipal vigente. Mais de 700 lotes (38%) são passíveis de alagamento e carecem de melhorias sanitárias e 973 terrenos (50%) não possuem delimitação de muro ou cerca, gerando a expectativa de conflitos vicinais e fundiários entre os moradores, além dos desafios da ausência de saneamento básico e da necessidade de melhorias estruturais e habitacionais. Esta realidade impede o direito à segurança jurídica do terreno e da moradia e o acesso pleno aos serviços urbanos da cidade, produzindo ainda possíveis conflitos vicinais entre os moradores, resultando no aumento das estatísticas de violência urbana, que termina em delegacias.

Para a arquiteta, o desenvolvimento do Sarfcon é fruto de uma ação histórica da CRF-UFPA, iniciada há mais de dez anos, envolvendo pesquisa, estudos e a dedicação de professores, pesquisadores, servidores públicos, técnicos, supervisores, estagiários e gestores que atuaram e atuam na Comissão. “O dia 29 de outubro e o teste realizado na casa da família Monteiro entram para a história da CRF-UFPA. Tudo começou com a criação dos dois primeiros softwares denominados de Sistema de Cadastro (Siscad) e o Cadastro Socioeconômicos e Territorial (Cadset), que embasaram os estudos para a construção de uma metodologia para a gestão do patrimônio imobiliário da UFPA,” recorda. 

Morador da Cabanagem assina o seu nome no Sarfcon (Foto: Renato Neves)

Depois foi desenvolvido o Sistema de Apoio à Regularização Fundiária (Sarf), que permitiu coletar as informações sobre o perfil cadastral do terreno, do imóvel e os dados socioeconômicos e jurídicos das comunidades beneficiadas com a regularização fundiária, além de automatizar a emissão da planta do lote, da quadra, do memorial descritivo, do parecer jurídico e a emissão do título de propriedade. “Agora, ao acompanhar o senhor Pedro assinando o seu nome no tablet, foi um sentimento forte e a certeza do retorno do trabalho da CRF-UFPA,” disse, emocionada. Estas informações, segundo Myrian, são sistematizadas e ajudam a prevenir conflitos de natureza socioambiental, habitacional e sanitária em todo território nacional. 

Ela afirma ainda que esta tecnologia tem uma força social e racionaliza o tempo e o trabalho, visando promover benefícios públicos para as camadas mais excluídas da sociedade, sem enfatizar o olhar mercadológico e lucrativo para aferir lucro e estimular o consumo.  “A tecnologia social aponta soluções para o ordenamento urbano e as melhorias para as estruturas habitacionais, o que favorece o reconhecimento do endereço, além de superar as desigualdades urbanas regionais e incluir o morador à cidade com mais segurança jurídica, urbanística, administrativa, fundiária e cidadania,” disse.

Detalhe de inclusão de informação no Sarfcon (Foto: Renato Neves)

Por sua vez, Lincoln Ribeiro, analista de Tecnologia da Informação e Comunicação da universidade (CTIC-UFPA), informa que o Sarfcon foi construído por uma equipe de pesquisadores em software livre com as melhores práticas no desenvolvimento de sistemas. “Utilizamos as tecnologias Java EE, Postgresql, Postgis, Flutter, Dart, Android e todo um ecossistema de bibliotecas e frameworks que respaldam a operacionalidade do Sarfcon, assim como o cumprimento da sua função social. O grande desafio foi eliminar os ruídos na comunicação – principalmente quando você tem equipes multidisciplinares trabalhando com temas complexos, transversais e de alta relevância para a gestão pública, a cidade e a comunidade,” detalha.

Esta evolução tecnológica, diz a presidente da CRF-UFPA, Marlene Alvino, teve como base a produção de conhecimentos e o suporte financeiro da UFPA, do então Ministério das Cidades (MCidades), da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Superior Profissional e Tecnológica do Estado do Pará (Sectet) e do atual Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). “São recursos públicos investidos em vários projetos de regularização que exigiram e exigem a atualização tecnológica para beneficiar as comunidades.  São elas que custearam esta evolução no campo da ciência fundiária, pois pagaram os seus tributos na aquisição de mercadorias no mercado e agora os benefícios voltam em políticas públicas,” enfatiza a servidora. E conclui: “Por isso, neste 29 de outubro de 2020, a UFPA cumpre novamente a sua missão, que é produzir e socializar conhecimentos para formar cidadãos capazes de promover a construção de uma sociedade inclusiva e sustentável”.

Detalhe do lote desenhado no Sarfcon (Foto: Renato Neves)

Para André Montenegro, um dos fundadores da CRF-UFPA, o Sarfcon solidifica a construção de uma via de comunicação digital referenciada, sustentável e inclusiva no universo da regularização fundiária e de prevenção de conflitos socioambientais na Amazônia Legal. 

“O trabalho envolve equipes multiprofissionais, além de técnicos, servidores, gestores públicos municipais e as lideranças das inúmeras comunidades beneficiadas em projetos fundiários realizados no Nordeste paraense e em Serra do Navio, no Amapá. Agora colocaremos em prática esta tecnologia social em 17 municípios da Amazônia Legal com o Programa Morar, Conviver e Preservar a Amazônia,” explica. “São estes dados sistematizados que sustentam o desenvolvimento de estudos para implementar políticas públicas de ordenamento urbano para combater as desigualdades regionais e buscar a democratização do desenvolvimento local, regional e nacional. Estes conhecimentos são chaves de acesso à cidade e a cidadania, conforme determina a Constituição Federal,” finaliza Montenegro.

Por Kid Reis – Ascom CRF-UFPA