Municípios com forte tradição pecuária são os “reis das rodas” no Pará

Redenção, Tucumã e Xinguara somam, juntos, 1,14 milhão de cabeças de gado e têm presença marcante de migrantes de GO, MT e MG. Eles são também os municípios com mais carro por habitante do Pará.

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Ao menos 18 municípios paraenses têm disponível um veículos para até três habitantes. O Blog calculou a densidade da frota em nível municipal, isto é, quantos moradores há para cada meio de transporte em circulação e concluiu que o estado, por suas graves diferenças socioeconômicas internas, bem como por sua geografia disforme, tem níveis proporcionais que variam desde um (veículo) para um (morador) até um para 2.590. Os dados da frota de 2018 foram contrapostos com os da estimativa da população de 2018 elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Redenção, no sul do estado, é o campeão em densidade de veículos. Naquele município de 84 mil habitantes, cerca de 61 mil carros e motos estão em circulação, o que rende uma média de um meio de transporte para 1,38 habitante, uma das menores relações frota-pessoa da Região Norte. Outros dois municípios do sul do estado acompanham Redenção: Tucumã, com densidade de um veículo para cada 1,53 habitante, e Xinguara, com densidade de um para 1,57 morador.

Esses municípios têm em comum o fato de serem grandes praças de pecuaristas oriundos dos estados de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais, com forte apelo por veículos do tipo caminhonete para enfrentar as adversidades climáticas e geográficas da Amazônia paraense. Redenção, por exemplo, é apenas o 19º município mais populoso do Pará, mas sua frota é a 8ª maior. Além disso, seu número de caminhonetes em circulação supera em mais de 700 unidades a frota desse mesmo tipo de veículos de Castanhal, que tem duas vezes e meia mais habitantes.

Terras, hidrelétrica e mineração

Depois do sul do Pará, dois municípios da Transamazônica possuem as melhores médias de veículo por habitante. Novo Progresso é o 4º do Pará, com um transporte automotor para 1,77 morador, e Altamira é o 5º, com um para 1,83 pessoa. Esses dois municípios aumentaram a frota por razões distintas.

Novo Progresso é a nova meca de fazendeiros sulistas, que marcham rumo à Amazônia em busca de grandes e férteis extensões de terras. Já Altamira enfrentou um dos maiores movimentos demográficos do Brasil esta década ao receber milhares de trabalhadores e dezenas de empresas em razão da construção da Hidrelétrica de Belo Monte, o que causou um “boom” econômico temporário e fez a frota quase triplicar nos últimos dez anos, passando de 24 mil unidades em 2010 para quase 62 mil em 2018, notadamente marcada por motos.

Na sequência, a densidade é marcada por municípios do sudeste paraense. Canaã dos Carajás (um veículo para 1,94 habitante), Parauapebas (um para 2,21), Rio Maria (um para 2,29) e Marabá (um veículo para 2,4 habitantes) entram na lista por se misturarem no principal cinturão agromineral do Norte brasileiro. As frotas de Marabá e Parauapebas, dois mais populosos municípios do sudeste do estado, recebem incremento anual entre 5.500 e 6.000 novos veículos. Elas crescem na esteira do desenvolvimento econômico de ambos, sendo um o maior produtor de minério de ferro do país (Parauapebas), e o outro, o maior produtor de cobre (Marabá).

Pobreza e falta de transporte

No outro extremo, o Pará detém quatro municípios considerados os piores do Brasil em presença de veículo. E todos estão localizados na região do Marajó, uma das mais pobres do país. Os mesmos quatro também estão, lamentavelmente, entre os piores do país em desenvolvimento humano, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) — o que é refletido pelo baixo rendimento da população, o que deriva a ausência de condição para aquisição de um bem tão caro, como um carro.

Em Afuá, campeão nacional da “falta” de veículos, o Denatran registra apenas 15 meios de transporte automotores para uma população de quase 39 mil habitantes. A densidade é de um veículo para 2.590 moradores. Em Chaves, a realidade é pouco diferente. Lá existem apenas 22 veículos emplacados para aproximadamente 23,5 mil pessoas, o que confere média de um para 1.067 habitantes.

A situação não é muito diferente em Bagre e em Melgaço. No primeiro há apenas 175 veículos emplacados para uma população de 30 mil pessoas; a média é de apenas um para cada grupo de 171 habitantes. No segundo existem 205 veículos para aproximadamente 27,5 mil cidadãos; fechando a conta, dá um meio de transporte para cada grupo de 134 pessoas.

Os números refletem vários Parás dentro de um estado continental marcado pelo crescimento acelerado da frota nas praças mais ricas e alvo de intensa migração e, ao mesmo tempo, pela sina da letargia do desenvolvimento nos rincões que, entra e sai década, continuam isolados e carentes do básico, onde carro é artigo de extremo luxo e não há perspectiva de progresso social.