Mulher avança no Brasil, mas Pará é 2º mais machista

Pesquisa aponta que homens cantam de galo dentro de casa com relativa folga. Nos números do Ministério da Economia, Blog observou que tem município do estado com dez vezes mais homens que mulheres no mercado, sinal de que faltam políticas para igualdade de gênero.

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Foi-se o tempo em que o homem gritava mais alto dentro de casa, e a mulher simplesmente obedecia e ouvia calada. Com as transformações sociais ocorridas nas últimas quatro décadas, a mulher emancipou-se, ocupou lugar de prestígio no competitivo mercado de trabalho e, agora, disputa praticamente em pé de igual com o homem a responsabilidade da chefia do lar. É o que mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou no mio desta semana dados levantados em visitas domiciliares realizadas ao longo de 2019.

Hoje, dos 72,39 milhões de domicílios brasileiros, 37,51 milhões (51,82%) têm o homem como chefe e impressionantes 34,88 milhões (48,18%) têm a mulher como cumeeira da casa. E detalhe: em meia dúzia das 27 Unidades da Federação elas são a principal referência de sustento do lar. É o que apurou o Blog do Zé Dudu ao analisar dados pormenorizados da Pnad, segundo a qual, por outro lado, o Pará tem uma das piores taxas de participação feminina na chefia domiciliar.

Isso mesmo: o estado ainda é provinciano e machista, muito em função de sua tradição econômica, dominada pela extração de produtos primários e que, por isso, trouxe muitos trabalhadores migrantes do sexo masculino para o serviço “pesado”, em atividades essencialmente dominadas por homem. O censo demográfico de 2010 revelou que, entre os 144 municípios, os homens eram maioria em 133 (92%). E pouca coisa mudou deste então.

Segundo o IBGE, em 2019, dos 2,55 milhões de domicílios do Pará, só 1,11 milhão (43,51%) eram chefiados por mulheres. É a segunda pior representação feminina nos lares, só não superada por Rondônia, onde a participação da mulher é ainda menor, 41,15% nos 593 mil lares. Outros estados onde as mulheres seguem sendo minoria na chefia do lar são Minas Gerais (43,97%) e Goiás (44,19%).

Já no vizinho Maranhão, de onde partem muitos trabalhadores do sexo masculino para outros lugares do país à procura de emprego, deixando para trás a mulher e os filhos, elas lideram a chefia da casa com 50,41% de participação nos 2,1 milhões de domicílios. As demais Unidades da Federação onde a mulher é destaque são Rio Grande do Norte (50,13%), Distrito Federal (50,55%), Pernambuco (50,75%), Rio de Janeiro (51,35%) e Sergipe (54,24%).

Desigualdade de gênero nos municípios

A Pnad do IBGE não coleta dados para divulgação em nível de município, mas o Blog cruzou números do mercado de trabalho formal da mais recente Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério da Economia, e constatou que alguns municípios do estado estão disparados em desigualdade de gênero.

Em São Caetano de Odivelas, por exemplo, para cada mulher empregada há dez homens em postos formais, sendo esse município o 3º mais desigual do Brasil no critério de gênero. Em Vitória do Xingu, município que tem se erguido economicamente sob a aba da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, para cada mulher no mercado de trabalho há seis homens. Em Cumaru do Norte e Sapucaia, os homens empregados são o triplo, enquanto em Canaã dos Carajás e em Parauapebas são o dobro.

Além disso, a diferença de rendimento para desempenhar uma mesma atividade é gritante. Em Parauapebas, conforme a Rais, um trabalhador do sexo masculino recebe em média R$ 500 a mais que um trabalhador do sexo feminino. Nos setores de mineração e comércio, essa diferença chega a quase R$ 1 mil. Em Canaã dos Carajás, a diferença média é ainda mais absurda: R$ 1.500. E nos serviços de utilidade pública o homem chega ganhar quase o dobro.

Esses números revelam a supremacia dos homens no mercado de trabalho local e explica parte das razões pelas quais os homens dominam a chefia dos domicílios no estado com relativa folga. A ausência de política públicas consistentes que mirem o combate à discrepância de gênero no mercado de trabalho contribui para o acirramento das desigualdades.