Gangorra de minério em Carajás cria ‘fenômeno estatístico’ nunca antes visto no Brasil

Produção industrial do Pará cresceu quase 60% em maio porque Canaã dos Carajás disparou na produção de minério de ferro após Parauapebas sofrer forte desaceleração em abril.

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O Pará acaba de entrar para os anais estatísticos do país por registrar a maior alta da história na produção industrial no período de um mês. A informação foi divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (12) e leva em conta a série histórica e todos os 15 locais pesquisados. Segundo o IBGE, de abril para maio, a produção industrial paraense subiu impressionantes 59,1%.

O Blog do Zé Dudu investigou o que existe por detrás desse crescimento exponencial da produção anunciada pelo instituto e, como não é novidade, o aumento se pauta na produção da indústria extrativa mineral, notadamente a extração de minério de ferro, que responde por 62% das exportações paraenses, de acordo com o Ministério da Economia.

Em maio, mês em que o IBGE registrou o “fenômeno” de 59,1% na produção, a produção física de minério de ferro totalizou 16,73 milhões de toneladas, após um abril em que foram registrados 7,15 milhões de toneladas. Maio, aliás, inaugura o período em que, pela primeira vez na história, o município de Canaã dos Carajás ultrapassou Parauapebas na produção de minério de ferro, conforme reportado pelo Blog aqui.

Abril foi um dos piores meses para as operações da mineradora multinacional Vale em Carajás esta década — desde 2012 sua atividade não era tão baixa. Além das fortes chuvas que se abateram sobre a região, a empresa teve de controlar a produção diante de incertezas no cenário mercadológico que se impôs, em decorrência do rompimento da barragem da mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), no final de janeiro deste ano. O rompimento da barragem causou a maior tragédia já registrada na mineração brasileira, deixando um rastro de quase 300 mortos.

O efeito Brumadinho desorganizou o planejamento da Vale, no tocante à produção de minério de ferro para abastecimento do mercado internacional. E chegou ao Pará, com picos negativos de produção, sobretudo nos meses de março (8,63 milhões de toneladas) e abril. As operações da Serra Norte de Carajás, localizadas em Parauapebas, são as que mais ruíram, mas como razoável estratégia para compensar o crescimento da produção na mina de Serra Sul, em Canaã dos Carajás. A Vale é cautelosa quanto ao despejo de grandes volumes de minério de alto grau de pureza — o mais demandado pela China — no mercado. 

Por outro lado…

Apesar do maio arrebatador em relação a abril, a produção industrial paraense caiu na comparação com 2018. Isso mesmo: o maio bom de 2019 foi 0,7% menor que o maio do ano passado. O Blog apurou que as 16,73 milhões de toneladas de minério de ferro deste ano foram cerca de 500 mil toneladas inferiores às 17,21 milhões de toneladas de 2018.

Para piorar, o “fenômeno” de maio não dá conta de compensar o resultado industrial consolidado dos cinco primeiros meses deste ano, período em que o Pará acumula baixa de 6,2% na produção, o segundo pior resultado do país, à frente apenas do Espírito Santo, que acumula perdas de 11,8% em sua produção industrial. Embora a pauta paraense contenha outros produtos analisados pelo IBGE (como cobre, manganês, aço, alimentos e bebidas), o minério de ferro domina 90% porque, neste caso, o que importa é o volume, e não o valor. Daí, a dependência quase exclusiva do Pará a um só produto, o que, por vezes, o leva a glórias que quase ninguém sente, por vezes a pagar mico.