ENTREVISTA EXCLUSIVA: Tião Miranda, prefeito de Marabá

"E vamos trabalhando que Deus vai ajudando". Com esse lema, Tião Miranda vai se tornando um dos prefeitos com melhor avaliação no Pará

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Alguém pode dizer que é blasfêmia, mas, além da ajuda de Deus, o prefeito de Marabá, engenheiro elétrico Sebastião Miranda Filho, 62 anos, filiado ao PTB, que tem quase 90% de aprovação da população do município, conta com o vasto conhecimento adquirido nos 26 anos de experiência no serviço público municipal, além de uma equipe de secretários escolhidos a dedo. Porém, afirma que continua aprendendo no dia a dia da Prefeitura de Marabá, à frente da qual está pela terceira vez, colocando o município como um dos mais bem administrados do país.

E qual o segredo disso? Tião Miranda, como é conhecido, diz que não há segredo: basta não comprar e não contratar mais do que pode pagar, não gastar mais do que arrecada e ficar vigilante, do primeiro ao último dia de mandato, em relação às contas da prefeitura, às licitações, às compras, à qualidade das obras e a tudo o mais que envolve o dinheiro público. “Aqui o secretário não gasta R$ 10,00 se não passar por mim,” afirma Tião, em entrevista concedida na quinta-feira (4), com exclusividade ao Blog do Zé Dudu, em Marabá.

Blog do Zé Dudu – Prefeito, o senhor assumiu há dois anos em meio a uma prefeitura com vários problemas financeiros, problemas de infraestrutura e tudo o mais. Como está a prefeitura hoje?

Tião Miranda – Eu acho que a prefeitura evoluiu muito. Recuperou o equilíbrio financeiro e fiscal e hoje tem capacidade de investimento, com centenas de obras acontecendo. Basta você olhar os relatórios e ver que a prefeitura está totalmente equilibrada, dentro da Lei de Responsabilidade Fiscal. Pegamos com inadimplência no Cauc [Cadastro Único de Convênios – do governo federal, considerado o “SPC” das prefeituras] e hoje está zerada. Isso possibilita receber verbas de convênios. Agora estamos passando por um momento complicado porque nós temos muitos convênios com o governo federal, emendas, creches do FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação], etc.

Zé Dudu – O governo federal não vem cumprindo a parte dele nos convênios?

Tião Miranda – Ontem e hoje [quarta-feira, 3, e quinta-feira, 4] eu paguei praticamente R$ 4 milhões que seria obrigação do FNDE. Eu estive três dias em Brasília, fui ao MEC [Ministério da Educação], mas lá não estão liberando recursos. O governo Bolsonaro não repassou os recursos para o MEC, para pagar as creches que foram feitas em convênio que eles firmaram com as prefeituras. No meu entendimento, não dá para deixar o empreiteiro sem receber. Eles já fizeram a obra, têm os funcionários, têm os fornecedores para pagar. Então, eu tirei do meu caixa próprio para pagar a fim de não parar as obras das creches, senão, fica pior. Depois eles [os empreiteiros] desistem e tem de relicitar.

Zé Dudu – Isso está dificultando de alguma forma a sua administração?

Tião Miranda – Essas dificuldades, de falta de repasses do governo federal, estão sendo maiores do que os problemas internos da prefeitura. São recursos de investimentos, convênios que eles fizeram, alguns recursos são de emendas parlamentares – nós temos aí emendas, obras que já foram executadas, cujos recursos o governo federal também não está repassando. A gente espera que o governo federal destrave no segundo semestre. A minha grande dificuldade com o governo federal é essa, eles não estão repassando os recursos já acordados.

Zé Dudu – Dos dez anos desta década, Marabá passou oito em franca estagnação econômica nas mãos de seus antecessores, e isso fatalmente trará repercussões aos indicadores sociais quando chegar a hora da apuração do Censo 2020. Como o senhor está preparando o município para isso? Vale lembrar que os números do censo são usados para gerar o famoso Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), no qual Marabá é considerado com desenvolvimento “médio”.

Tião Miranda – Eu tenho uma filosofia que sempre passo para os meus secretários, para a minha equipe: vamos trabalhar com seriedade, com compromisso. E trabalhar muito, porque eu acredito que, como dizia Albert Einstein, “o sucesso só vem antes do trabalho no dicionário”. É com muito trabalho que as coisas vêm acontecendo. Todos os dias eu estou aqui dentro da prefeitura. Só vou a Brasília ou Belém em casos extremos; eu me dedico aqui. Sei que o dia a dia é complicado, tem muita coisa para resolver, eu controlo as finanças da prefeitura. Aqui o secretário não gasta R$ 10,00 se não passar por mim, certo?

Zé Dudu – O senhor, então, acompanha tudo de perto, cada ato da administração?

Tião Miranda – Acompanho as licitações, acompanho os contratos, hoje isso está muito travado, muito burocratizado e precisa destravar para as coisas acontecerem. E sempre estou aí, olhando os pagamentos, para pagar em dia e assim poder cobrar. Então, estamos dando a nossa parte para melhorar a cidade, melhorar o IDH. O IDH é um conjunto de fatores – educação, saneamento, saúde, etc. Eu acho que a gente avançou muito nesses dois anos e em todas essas áreas. É lógico que ainda não está a contento, porque nós temos muitas dificuldades. Marabá é um município-polo.

Zé Dudu – O que acarreta para Marabá essa posição de polo?

Tião Miranda – No ano passado, o município gastou 32% do seu recurso próprio na saúde – grande parte da demanda da saúde dos municípios vizinhos vem para Marabá. O nosso Hospital Municipal aqui é um pronto-socorro regional; o nosso Materno-Infantil é uma maternidade regional. Mas é papel do município-polo, do município que tem as melhores estruturas, não tem jeito de fugir disso. O que precisamos é de mais contribuição – do governo do estado e do governo federal serem mais parceiros para enfrentarmos essas situações.

Zé Dudu – Marabá tem sua área urbana polinucleada. Não é segredo que os investimentos públicos são concentrados nos complexos Nova Marabá, na Cidade Nova e na Marabá Pioneira. Mas, por exemplo, o São Félix é o que mais cresce em termos populacionais e, aliás, já tem um dos bairros com maior qualidade de vida (o Novo Progresso), segundo o censo 2010 do IBGE. Como está sendo realizada a dispersão das políticas públicas (educação, infraestrutura, saúde) nos núcleos mais afastados do “movimento”, como São Félix e Morada Nova?

Tião Miranda – Nós temos obras em todos esses núcleos, nós não fazemos exceção de núcleos. Em São Félix e Morada Nova temos obras, como postos de saúde reformados, por exemplo, entre outras. E não só nesses dois núcleos, mas também na grande zona rural de Marabá, que faz fronteira com São Félix do Xingu, Parauapebas, Itupiranga, Bom Jesus do Tocantins. Há uma satisfação na zona rural, melhoramos muito as estradas vicinais, construímos pontes, bueiros, estamos presentes em todo o município de Marabá, inclusive construindo escolas e reformando postos de saúde.

Zé Dudu – Então todo o município está sendo contemplado com obras?

Tião Miranda – É lógico que dentro do que é possível. Não é o desejável porque nós não temos recursos para resolver todos os problemas, mas hoje temos uma atuação muito grande da prefeitura em todos os núcleos. Basta você olhar: na Vila Sororó, a 35 quilômetros de Marabá, nós estamos pavimentando duas vias, para deixar o lugar muito melhor; em Itainópolis, nós temos pavimentação. Quer dizer, a gente vai dividindo o recurso. Eu sempre digo que ser prefeito é um pai ter muitos filhos e ganhar salário: tem de dar um pouquinho para cada filho. Então cada bairro, cada vila, é um filho, aí você vai fazendo um pouquinho em cima da necessidade primária de cada lugar. Às vezes o lugar está precisando de um posto de saúde, de uma escola ou de uma pavimentação de rua – é lógico que a gente não faz o ideal, mas o possível a gente tem feito.

Tanto assim que a administração tem uma aprovação muito grande da população, que viu as coisas aconteceram – pequenas obras às vezes fazem uma diferença. É uma drenagem, uma pracinha, um meio-fio, uma calçada. A população pede essas pequenas obras, como iluminação, limpeza pública, que nós sempre priorizamos. Agora criamos até um programinha pequeno, “Gari dos Rios”, onde nós vamos ter dois barcos limpando os rios nos 12 meses do ano para deixar limpos nossos dois rios – Tocantins e Itacaiúnas –, que são nossa riqueza maior, numa condição melhor.

Zé Dudu – Como é o seu contato com o munícipe?

Tião Miranda – A gente está antenado com o povo. O meu WhatsApp, por exemplo, é público; o povo faz as reclamações, é uma maneira de me comunicar com o povo. Então eu penso que nisso a gente evoluiu muito, democratizou a prefeitura. Hoje também, eu, aqui no gabinete, tenho câmeras on-line no Hospital Municipal, no Materno-Infantil – eu olho, vejo; porque as questões mais complicadas são na área de saúde. É uma área na qual, quanto mais melhora o sistema, mais puxa problemas para ela, porque puxa do município vizinho. Mas hoje a gente está aí, no nosso dia a dia, acompanhando a vida do cidadão, esteja ele lá na Vila Capistrano de Abreu, seja no Macaco Careca, seja no núcleo São Félix, seja em Morada Nova, nós estamos lá tentando resolver os problemas mais urgentes.

Zé Dudu – Marcado por índices nefastos e inglórios, que o colocam no topo das misérias (saneamento: é o 2º pior / violência: é um dos 20 piores / pessoa idosa: é o pior de todos)…

Tião Miranda – Esses são dados antigos. Hoje você pode perguntar à promotora dos idosos: nós temos a Praça do Idoso, a Casa dos Idosos, van, convênio com o Lar São Vicente, que cuida dos idosos, programas para os idosos, que antes não havia. No caso da saúde, quando eu assumi havia 7 mil cirurgias eletivas represadas – nós acabamos; fizemos um grande esforço, realizamos cirurgias de catarata, de hérnia. Hoje, os cinco centros cirúrgicos do Hospital Municipal funcionam.

Nós pegamos o município em situação caótica, todo mundo sabe, com salários atrasados, vale-alimentação atrasado, fornecedor atrasado. Hoje a realidade do município é muito diferente de dois anos atrás. Nem a cidade era limpa, era cheia de urubus – aconteceu uma epidemia de leishmaniose. Hoje, você pode consultar o próprio Ministério Público, as pessoas que fiscalizam, você vê que o município avançou muito.

Zé Dudu – Como a prefeitura tem agido para levar essas políticas públicas de modo a promover a igualdade e a justiça social?

Tião Miranda – A gente avançou muito no lado social. Hoje temos o Programa Família Acolhedora, estruturamos os CRAS [Centros de Referência em Assistência Social], o Bolsa-Família aumentou muito. Hoje nós temos vários programas sociais, convênios com as entidades sérias que desenvolvem programas. Montamos os conselhos, como o da Mulher. Somos o segundo município que fez o Convênio Maria da Penha, junto com a Justiça, para monitorar. Quer dizer, as ações sociais estão melhorando. Melhoramos muito a merenda escolar, atendemos a 55 mil estudantes. Para se ter uma ideia, nós puxamos até a merenda do Ensino Médio, que é do estado. Fizemos um convênio para preparar essa merenda, porque fazemos com muito mais agilidade, muito mais qualidade e isso foi um grande avanço, mas com a prefeitura entrando com contrapartida e gastando mais. A gente entende que muitas coisas o município faz muito melhor que o estado e a União.

Zé Dudu – Então tem havido avanços significativos?

Tião Miranda – O município está mais presente. Nós temos avançado nas políticas sociais. Ontem mesmo eu assinei uma lei criando uma cesta-básica para acompanhar o tratamento de 172 pessoas portadoras de hanseníase no município. O presidente de uma organização do Japão, que atua no mundo todo, esteve aqui e disse que isso é uma coisa inédita – falou que, com 40 anos de atuação, ele nunca viu ninguém com essa preocupação. O nosso índice de cura é de 90% e a cesta-básica não envolve só a questão da alimentação, é uma forma de ter um controle para verificar se o paciente está tomando a medicação. Temos avançado muito nisso aí.

Zé Dudu – Como está a reciprocidade do estado com o novo governador?

Tião Miranda – Hoje nós temos algumas parcerias. Eu tenho uma relação muito boa com o governador Helder Barbalho (MDB) e com o irmão dele, o Jader Filho. É uma relação republicana, de respeito. No que é do âmbito do estado, ele tem sido parceiro. Isso também é complicado – o estado é muito maior que o município e muito mais complexo para poder administrar. Nós sabemos que hoje os estados passam por muitas dificuldades. O município, como é menor, mais enxuto, possibilita dar uma resposta muito mais rápida para a comunidade.

Zé Dudu – O município de Marabá está no olho do furacão do desenvolvimento econômico nacional nos próximos anos. Um pacote de coisas (siderúrgica, ponte rodoferroviária, hidrovia, hidrelétrica, ferrovia, derrocamento do pedral, porto) ou é presumida, esperada ou está encaminhada; ou tem Marabá como sede, ou como ponto de apoio. Nenhum município paraense está no meio de tanto promissório. Como o município se prepara administrativamente para um eventual giro de 180 graus em sua atual dinâmica humana, social e comercial?

Tião Miranda – Primeiramente, eu peço que Deus lhe ouça e esses investimentos venham para cá. Porque eu penso que não só Marabá, mas o Brasil precisa de emprego, de oportunidades. O Brasil hoje é um país engessado, com muitas dificuldades, com uma legislação trabalhista que engessou muito e terminou prejudicando o trabalhador e hoje não há oportunidades. As pessoas me pedem muito emprego, estão desesperadas por uma oportunidade. Eu sei disso e por isso toco muitas obras – isso emprega as pessoas. E se esses investimentos vierem, isso vai dar uma dinâmica maior na cidade que, por si só já é dinâmica, tem uma posição estratégica, é um intermodal; saindo uma hidrovia melhora muito mais. Nós sabemos que o Brasil tem de ter ferrovias, tirar a carga das estradas, que não podem ficar para transporte de carga.

Zé Dudu – Então o senhor vê com esperança esses prováveis empreendimentos?

Tião Miranda – A gente vê aí as rodovias, tipo a PA-150, se acabando, com carretas acima do peso. Quando você passa vê as estradas todas fazendo “camaleão”. São milhares de carretas passando, não tem estrutura; tem de haver balanças para controlar o peso das carretas com carga. E nós precisamos de alternativa de logística – ferrovia, hidrovia, porto – para melhorar o país, criar oportunidade de emprego.

A gente espera que esses investimentos venham para Marabá e vamos trabalhar para melhorar mais a renda e investir mais na infraestrutura, na educação, na saúde, na assistência social. Nós fazemos um trabalho conjunto, hoje, em Marabá, dentro do nosso limite financeiro – atuamos em todas as frentes.

Zé Dudu – Como está a relação com Parauapebas? Temos aí a área do Contestado que praticamente é Parauapebas que banca.

Tião Miranda – É uma relação boa com o Darci [Lermen, prefeito de Parauapebas]. Temos alguns convênios e eu acho que essa relação é republicana porque, como o município foi dividido, às vezes na Assembleia Legislativa existem áreas que ficam sob maior influência de outro município. Existem áreas de Itupiranga, Bom Jesus, São Félix do Xingu, por exemplo, que são influenciadas por Marabá. Isso é natural. O cidadão, ali naquela área do Contestado, está muito mais perto de Parauapebas e a relação dele é muito mais próxima com o município do que com Marabá. Fizemos alguns convênios de cooperação técnica lá e tem dado certo. Nós queremos é que Parauapebas se desenvolva, melhore muito – é um filho de Marabá que cresceu muito mais, ficou muito maior.

Zé Dudu – Vamos falar de política. O senhor será candidato à reeleição em 2020?

Tião Miranda – Eu ainda não decidi. Essa decisão ainda vai amadurecer, não tem muita pressa.

Zé Dudu – Diante dessa, vamos dizer, indecisão, o senhor já vem trabalhando o nome de um sucessor? Seria o Toni Cunha, mas agora ele está empregado em outra função, não é?

Tião Miranda – Ele [Toni] se afastou muito. A gente sempre tem um nome. Eu acho que você tem de ter um sucessor que tenha preparo para administrar Marabá – não é qualquer um. Não é só com Facebook, com garganta que se administra. Eu já vi vários aí, “leões” de Facebook, de Imprensa e, na hora de sentar na cadeira – de gerir, administrar, tomar responsabilidade, ser um executivo, saber que há todo um risco, de decidir, de resolver –, não dá conta.

Administrar não é fácil, não. O gestor público é muito penalizado. Primeiro, ele tem um alvo no peito, todo mundo quer dar um tiro, não é? Segundo, ele tem de trabalhar muito e fazer as coisas acontecerem. Fechar o orçamento.

Zé Dudu – Como deve ser a escolha do novo gestor?

Tião Miranda – Então, a gente sabe que isso aí tem de ser analisado com muita calma, até para se falar em um possível sucessor, uma pessoa que tenha preparo para gerir o município. Antigamente, as pessoas achavam que político era aquele de dava tapinhas nas costas, abraçava, pegava na mão e depois acabava com o município.

Nós estamos vendo aí exemplos de municípios como Tucuruí, um município pujante, numa situação complicada. Por quê? Passaram várias administrações ruins e o município foi perdendo; e, em Marabá, realmente, se não pegasse uma administração que puxasse o município, que controlasse suas contas, ia ser parecido. Então, não é qualquer um – mesmo que tenha boa vontade e boas intenções, mas, se não tiver competência e talento, não serve para ser um executivo.

Eu já não tinha o perfil do Legislativo, fui deputado, mas achava aquilo muito cansativo. Eu sou executivo porque eu gosto de olhar, de ver os números, eu sou apaixonado por números, desde criança.

Zé Dudu – Por falar em competência, seu atual secretário de Saúde, Luciano Dias, é um coringa. Resolveu o drama na Secretaria de Educação e este ano você o transferiu para a Saúde. Ele tem o perfil que você gostaria para ocupar o cargo de vice, como se tem especulado na cidade?

Tião Miranda – Há vários aqui que têm bons perfis; Luciano e outros são administradores, já passaram por várias pastas e administram bem. Hoje, a visão do gestor é muito mais técnica que política. Eu sempre digo o seguinte: sou 80% gestor e 20% político. Não deixo de ser político. Há horas em que a política tem de entrar no meio e entrar no patamar que não seja politicagem. Tem de ser política e trabalhar para a comunidade. Falar a verdade para a comunidade e essa comunidade começar a ver que não só tem o bônus, que tem o ônus também.

Zé Dudu – Ou seja, a administração tem de ser absolutamente transparente?

Tião Miranda – O município tem suas dificuldades. Nas nossas prestações de contas a gente mostra os números, o que é receita e o que é despesa; a gente não esconde nada da população. As nossas licitações são todas publicadas, fazemos as coisas com muito critério – ganha quem realmente vai fazer a obra. Todas as nossas obras têm medição, são fiscalizadas; às vezes tem uma pessoa para conferir a medição e eu acho que é isso aí: é você ter essa noção de que gestão é coisa séria, tem de ter comprometimento, seriedade e ter talento. Se não tiver talento para administrar, pode procurar outro ramo, porque executivo é talento e muito trabalho.

Zé Dudu – Há quantos anos o senhor está na política?

Tião Miranda – Eu comecei na política como secretário de Obras, de Urbanismo e até de Administração na gestão do Haroldo Bezerra [1992–1996]. Foi em 1993, há 26 anos.

Zé Dudu – O senhor disse há pouco que é 80% gestor e 20% político. Nesses 26 anos, o senhor hoje se considera um político melhor?

Tião Miranda – Eu acho que a gente melhora; com o tempo se torna muito mais maduro, mais sereno. O tempo nos dá sabedoria. Até porque aprendemos muito mais nas derrotas do que nas vitórias. Eu já passei por muitas situações difíceis na política. Hoje a gente trabalha muito, mas tem uma visão mais ampla das coisas – mais tolerância, mais paciência. Passa a saber que tudo tem um tempo certo, que a gente não consegue mudar as pessoas, tem de moldar. E sempre ter o conceito de que você pode trabalhar certo e mostrar essa maneira certa para as pessoas: mostrar que entre dois pontos o caminho mais curto é uma reta e temos trabalhado nisso. Para as pessoas aprenderem a ser um fornecedor exemplar para Marabá – o funcionário saber que vai receber seu salário, que os encargos são recolhidos, que os investimentos são feitos na cidade, que a placa está com o valor da obra, que a obra está acontecendo. As pessoas têm de saber essas informações.

Zé Dudu – O senhor, então, conhece muito bem como funcionam todas as peças da máquina administrativa?

Tião Miranda – Eu já passei por muitas fases: comecei como secretário de Obras, depois fui vice–prefeito e secretário de Obras, fui prefeito e aí eu já dominava todas as áreas da prefeitura. Na época do Haroldo [Bezerra], eu fui secretário de Obras, de Urbanismo e de Administração, depois fui diretor de Suprimentos. Então, na prefeitura, não é que a gente não aprenda. Todo dia tem um aprendizado – as coisas vão mudando, mas hoje temos um domínio muito grande da gestão pública. Saber como as coisas ocorrem, que a gestão pública tem muita burocracia, muita trava.

Às vezes a gente quer fazer alguma coisa, mas tem de fazer uma licitação, tem a Progem [Procuradoria-Geral do Município], tem a Congem [Controladoria-Geral do Município], tem a análise da Engenharia, tem a equalização. Tem várias fases para fazer o processo legal e a fase também da legitimidade, que é você procurar executar as coisas em sequência e é essa a nossa visão.

Zé Dudu – Nesses 26 anos de política, o senhor tem algum arrependimento?

Tião Miranda – Eu sempre tive uma filosofia: nunca fiz aliança na política para eleição a prefeito dando secretaria para partidos. Todo mundo sabe que meus secretários são escolhidos a dedo, por mim. As pessoas que são meus secretários têm um compromisso com o município que é um compromisso comigo. Não estão ali para atender partido A, B ou C.

Eu tenho poucos arrependimentos na política, digo sinceramente. Lógico que eu poderia estar na iniciativa privada, tranquilo. Eu sei que hoje, se as coisas dão errado, o primeiro a ser xingado é o político. As pessoas colocam todo mundo numa vala comum e isso é ruim, porque a política foi criminalizada. É lógico que alguns espertalhões se envolveram na política, mas a gente também sabe que há duas maneiras de mudar o mundo: pelas armas, desde o tempo dos faraós; ou pela política. Não tem outra maneira.

Você pode ver que um país é governado por uma ditadura ferrenha ou pelo processo democrático. Hoje se usa muito o parlamentarismo, em países da Europa, como Austrália, Inglaterra, França. Então, o sistema hoje mudou, as coisas estão evoluindo, mas nós sabemos que só há essas duas maneiras de mudar o mundo. Por meio das armas ou pela política, da diplomacia, do processo, da conversa. E eu acho que o Brasil é um país novo, que já apanhou muito, fez uma Constituição que protegeu demais – deveria ser mais enxuta – criou muitos mecanismos e o país precisa avançar. Avançar na geração de emprego, na geração de renda, que é a oportunidade para o cidadão vencer na vida.

Zé Dudu – Como o senhor se sente tendo mais de 80% de aprovação do seu governo?

Tião Miranda – Eu sinto que estou no caminho certo, que é o caminho do trabalho, de fazer as coisas com seriedade, pagar as contas, levar as coisas para a comunidade, sempre preocupado com que aquilo vá beneficiar mais. Eu não sou aquele político de dar tapinhas nas costas, de estar em tudo o que é casamento, aniversário; eu sou um político que tenho a minha vida, um executivo que trabalha muito. Eu penso na comunidade. Eu fico pensando aqui no que eu posso fazer pela comunidade – um colégio, um posto de saúde, uma drenagem, uma pavimentação de rua, uma iluminação, e tenho a minha vida privada, chega o sábado e o domingo eu me isolo na minha casa

Zé Dudu – E como é um governo com grande índice de aprovação, como o seu, trabalhar dentro da Lei de Responsabilidade Fiscal – uma vez que, como você disse há pouco, a licitação engessa o processo? Como é ter essa harmonia com a LRF?

Tião Miranda – Eu acho que é assim: a gente sempre acompanha a receita e despesa; sempre está comparando e há sempre uma reserva. E o importante aí é saber que gestão são números, é matemática pura. A gente não pode gastar o que não arrecada. É lógico que numa prefeitura você tem de investir o que arrecada, não pode fazer um caixa e ficar ali sem investir. Então nós vamos fazendo os investimentos – temos percentuais mínimos na educação; da saúde, que hoje consome quase o dobro, que é a pasta em que mais se gasta, é a pasta mais complicada. Na educação, também, a gente atinge um bom nível. E é sempre esse equilíbrio das contas.

Zé Dudu – Então o gestor tem de, obrigatoriamente, monitorar as contas do município todos os dias?

Tião Miranda – É o dia a dia. Todos os dias você tem de olhar as contas: saldo, o que entrou, as despesas obrigatórias, o custeio da máquina, a capacidade de investimento, as contrapartidas de convênios. Essa é uma equação que você tem de resolver no dia a dia, tem de ter aquela vontade de fazer e gostar de fazer isso. Porque é complicado, é como a vida da gente, só que uma vida da gente bem maior – temos 8 mil e poucos servidores, muitas empresas que precisam de nós. Muita gente precisa da prefeitura; precisa receber em dia e isso movimenta a cidade. Então, a gente olha com muita responsabilidade a despesa e a receita.

Na minha campanha eu não prometi obra nenhuma. A única coisa que eu prometi foi o seguinte: o que eu prometesse eu cumpriria e pagar o que eu comprasse. O que a gente promete aqui, a gente cumpre; o que a gente compra, a gente paga.

Zé Dudu – Há alguma promessa de campanha que não tenha sido cumprida?

Tião Miranda – Eu prometi muito trabalho. Prometi, inclusive, na época, remédio amargo para consertar as contas da cidade. “Vai ter um remédio amargo, um purgante forte, porque a prefeitura está em situação difícil, pra poder consertar”. E dei remédio amargo no início, mas agora as pessoas viram que foi benéfico. A prefeitura se estruturou e vamos caminhando.

Zé Dudu – Uma administração bem aprovada como a sua – por mais que o senhor seja competente e dedicado –, tem um bom corpo de auxiliares. O senhor se reúne com o seu secretariado?

Tião Miranda – Não. Todos os dias, se algum secretário tem problema, vem aqui despachar comigo. Não há reunião porque eu acho que cada pasta tem suas particularidades. Se tem problemas eu os recebo aqui no dia a dia, como recebo os vereadores, e despacho. Eu sou só o maestro, a orquestra trabalha afinada.

Zé Dudu – Como é a sua relação com a Câmara Municipal? A gente vê, em vários municípios, vereador indicando secretários…

Tião Miranda – Eu acho que cada macaco no seu galho. Eu respeito o Poder Legislativo, temos uma relação republicana, em cima de benefícios que os vereadores pedem para os seus bairros, para as suas bases – a gente trabalha isso; sabemos também que eles precisam disso, mas essa questão de secretários, não. Eu escolho meus secretários, que são pessoas que realmente têm compromisso comigo e com o município, porque do jeito que eu nomeio, posso tirar. A gestão é de executar, de melhorar lá o seu bairro, seu reduto.

Zé Dudu – Quer dizer que aqui, em Marabá, vereador não indica secretário nem reivindica cargo?

Tião Miranda – Não. Eles vêm muito mesmo é pedir investimento. Aqui, a gente já passou dessa fase. A nossa fase já está bem mais republicana, bem mais avançada. Eles trabalham muito em cima de investimentos para os locais deles, para os bairros deles. Hoje temos com a Câmara uma relação muito republicana.

Os projetos do Executivo quando vão [para a Câmara] são trabalhados, explicados – mostramos para eles o que é de interesse da comunidade e a Câmara tem sido uma grande parceria minha. Esse exemplo da Câmara daqui é bom até para o estado; é salutar. Vejo outros municípios aí em que o vereador é dono da secretaria tal. Quer dizer, o compromisso não é com a população; o compromisso é com o partido. Isso aí é complicado, cria um problema seríssimo.

Zé Dudu – E como é o Tião Miranda fora da prefeitura? A pessoa física Tião Miranda?

Tião Miranda – O Tião Miranda sempre foi o Tião Miranda, antes da prefeitura. Nasceu aqui em Marabá, no Cabelo Seco [hoje Bairro Francisco Coelho], anda sozinho, tem os filhos. Os amigos são sempre os mesmos, não criou mais amigos depois da política, faz a caminhada dele durante uma hora, sozinho. Nunca gostei de guarda–costas, nunca gostei de andar com seguranças, porque eu acho que isso aí… Ser prefeito é muito mais ônus do que bônus.

Zé Dudu – É, mas ser prefeito com 87% de aprovação é mais fácil.

Tião Miranda – O povo vê que a gente está trabalhando muito pela cidade, estamos fazendo o nosso melhor. A gente se furta… Se você olhar as minhas diárias de 2017 e 2018, são muito poucas. Eu saio muito pouco da cidade – quando eu vou a Brasília é para resolver; quando eu vou a Belém é a mesma coisa. Então você vê que eu sou um cara muito dedicado a Marabá, nesses dois anos e meio de prefeitura não tirei um dia de férias. Eu tenho uma filha que mora na Austrália há 15 anos; eu não fui visitar a minha filha. Por quê? Eu sou muito focado, muito determinado e gosto das coisas sob controle; de fazer as coisas – não é fácil fazer, realizar é difícil. Você não faz obras nem com recurso na conta, se você não estiver determinado, se não estiver fiscalizando, olhando, as coisas não acontecem.

É o que acontece no Brasil: as coisas são muito travadas, muito dificultosas. O sistema é muito travado, muitas questões ambientais, muitas coisas que travam demais o sistema. Esse nosso modelo de licitação é ultrapassado. Às vezes a empresa que ganha a licitação só tem uma pastinha [de documentos]; você sabe que ela não tem condições de executar a obra, e isso só vai criar mais dificuldades e deixar muito mais caro.

Tem de focar para as coisas andarem e não é fácil. Essa dedicação é uma missão minha, que é administrar a cidade de Marabá. E vamos trabalhando que Deus vai ajudando!

Tião Miranda – Primeiramente, eu peço que Deus lhe ouça e esses investimentos venham para cá. Porque eu penso que não só Marabá, mas o Brasil precisa de emprego, de oportunidades. O Brasil hoje é um país engessado, com muitas dificuldades, com uma legislação trabalhista que engessou muito e terminou prejudicando o trabalhador e hoje não há oportunidades. As pessoas me pedem muito emprego, estão desesperadas por uma oportunidade. Eu sei disso e por isso toco muitas obras – isso emprega as pessoas. E se esses investimentos vierem, isso vai dar uma dinâmica maior na cidade que, por si só já é dinâmica, tem uma posição estratégica, é um intermodal; saindo uma hidrovia melhora muito mais. Nós sabemos que o Brasil tem de ter ferrovias, tirar a carga das estradas, que não podem ficar para transporte de carga.

Zé Dudu – Então o senhor vê com esperança esses prováveis empreendimentos?

Tião Miranda – A gente vê aí as rodovias, tipo a PA-150, se acabando, com carretas acima do peso. Quando você passa vê as estradas todas fazendo “camaleão”. São milhares de carretas passando, não tem estrutura; tem de haver balanças para controlar o peso das carretas com carga. E nós precisamos de alternativa de logística – ferrovia, hidrovia, porto – para melhorar o país, criar oportunidade de emprego.
A gente espera que esses investimentos venham para Marabá e vamos trabalhar para melhorar mais a renda e investir mais na infraestrutura, na educação, na saúde, na assistência social. Nós fazemos um trabalho conjunto, hoje, em Marabá, dentro do nosso limite financeiro – atuamos em todas as frentes.

Zé Dudu – Como está a relação com Parauapebas? Temos aí a área do Contestado que praticamente é Parauapebas que banca.

Tião Miranda – É uma relação boa com o Darci [Lermen, prefeito de Parauapebas]. Temos alguns convênios e eu acho que essa relação é republicana porque, como o município foi dividido, às vezes na Assembleia Legislativa existem áreas que ficam sob maior influência de outro município. Existem áreas de Itupiranga, Bom Jesus, São Félix do Xingu, por exemplo, que são influenciadas por Marabá. Isso é natural. O cidadão, ali naquela área do Contestado, está muito mais perto de Parauapebas e a relação dele é muito mais próxima com o município do que com Marabá. Fizemos alguns convênios de cooperação técnica lá e tem dado certo. Nós queremos é que Parauapebas se desenvolva, melhore muito – é um filho de Marabá que cresceu muito mais, ficou muito maior.

Zé Dudu – Vamos falar de política. O senhor será candidato à reeleição em 2020?

Tião Miranda – Eu ainda não decidi. Essa decisão ainda vai amadurecer, não tem muita pressa.

Zé Dudu – Diante dessa, vamos dizer, indecisão, o senhor já vem trabalhando o nome de um sucessor? Seria o Toni Cunha, mas agora ele está empregado em outra função, não é?

Tião Miranda – Ele [Toni] se afastou muito. A gente sempre tem um nome. Eu acho que você tem de ter um sucessor que tenha preparo para administrar Marabá – não é qualquer um. Não é só com Facebook, com garganta que se administra. Eu já vi vários aí, “leões” de Facebook, de Imprensa e, na hora de sentar na cadeira – de gerir, administrar, tomar responsabilidade, ser um executivo, saber que há todo um risco, de decidir, de resolver –, não dá conta.
Administrar não é fácil, não. O gestor público é muito penalizado. Primeiro, ele tem um alvo no peito, todo mundo quer dar um tiro, não é? Segundo, ele tem de trabalhar muito e fazer as coisas acontecerem. Fechar o orçamento.

Zé Dudu – Como deve ser a escolha do novo gestor?

Tião Miranda – Então, a gente sabe que isso aí tem de ser analisado com muita calma, até para se falar em um possível sucessor, uma pessoa que tenha preparo para gerir o município. Antigamente, as pessoas achavam que político era aquele de dava tapinhas nas costas, abraçava, pegava na mão e depois acabava com o município.
Nós estamos vendo aí exemplos de municípios como Tucuruí, um município pujante, numa situação complicada. Por quê? Passaram várias administrações ruins e o município foi perdendo; e, em Marabá, realmente, se não pegasse uma administração que puxasse o município, que controlasse suas contas, ia ser parecido. Então, não é qualquer um – mesmo que tenha boa vontade e boas intenções, mas, se não tiver competência e talento, não serve para ser um executivo.
Eu já não tinha o perfil do Legislativo, fui deputado, mas achava aquilo muito cansativo. Eu sou executivo porque eu gosto de olhar, de ver os números, eu sou apaixonado por números, desde criança.

Zé Dudu – Por falar em competência, seu atual secretário de Saúde, Luciano Dias, é um coringa. Resolveu o drama na Secretaria de Educação e este ano você o transferiu para a Saúde. Ele tem o perfil que você gostaria para ocupar o cargo de vice, como se tem especulado na cidade?

Tião Miranda – Há vários aqui que têm bons perfis; Luciano e outros são administradores, já passaram por várias pastas e administram bem. Hoje, a visão do gestor é muito mais técnica que política. Eu sempre digo o seguinte: sou 80% gestor e 20% político. Não deixo de ser político. Há horas em que a política tem de entrar no meio e entrar no patamar que não seja politicagem. Tem de ser política e trabalhar para a comunidade. Falar a verdade para a comunidade e essa comunidade começar a ver que não só tem o bônus, que tem o ônus também.

Zé Dudu – Ou seja, a administração tem de ser absolutamente transparente?

Tião Miranda – O município tem suas dificuldades. Nas nossas prestações de contas a gente mostra os números, o que é receita e o que é despesa; a gente não esconde nada da população. As nossas licitações são todas publicadas, fazemos as coisas com muito critério – ganha quem realmente vai fazer a obra. Todas as nossas obras têm medição, são fiscalizadas; às vezes tem uma pessoa para conferir a medição e eu acho que é isso aí: é você ter essa noção de que gestão é coisa séria, tem de ter comprometimento, seriedade e ter talento. Se não tiver talento para administrar, pode procurar outro ramo, porque executivo é talento e muito trabalho.

Zé Dudu – Há quantos anos o senhor está na política?

Tião Miranda – Eu comecei na política como secretário de Obras, de Urbanismo e até de Administração na gestão do Haroldo Bezerra [1992–1996]. Foi em 1993, há 26 anos.

Zé Dudu – O senhor disse há pouco que é 80% gestor e 20% político. Nesses 26 anos, o senhor hoje se considera um político melhor?

Tião Miranda – Eu acho que a gente melhora; com o tempo se torna muito mais maduro, mais sereno. O tempo nos dá sabedoria. Até porque aprendemos muito mais nas derrotas do que nas vitórias. Eu já passei por muitas situações difíceis na política. Hoje a gente trabalha muito, mas tem uma visão mais ampla das coisas – mais tolerância, mais paciência. Passa a saber que tudo tem um tempo certo, que a gente não consegue mudar as pessoas, tem de moldar. E sempre ter o conceito de que você pode trabalhar certo e mostrar essa maneira certa para as pessoas: mostrar que entre dois pontos o caminho mais curto é uma reta e temos trabalhado nisso. Para as pessoas aprenderem a ser um fornecedor exemplar para Marabá – o funcionário saber que vai receber seu salário, que os encargos são recolhidos, que os investimentos são feitos na cidade, que a placa está com o valor da obra, que a obra está acontecendo. As pessoas têm de saber essas informações.

Zé Dudu – O senhor, então, conhece muito bem como funcionam todas as peças da máquina administrativa?

Tião Miranda – Eu já passei por muitas fases: comecei como secretário de Obras, depois fui vice–prefeito e secretário de Obras, fui prefeito e aí eu já dominava todas as áreas da prefeitura. Na época do Haroldo [Bezerra], eu fui secretário de Obras, de Urbanismo e de Administração, depois fui diretor de Suprimentos. Então, na prefeitura, não é que a gente não aprenda. Todo dia tem um aprendizado – as coisas vão mudando, mas hoje temos um domínio muito grande da gestão pública. Saber como as coisas ocorrem, que a gestão pública tem muita burocracia, muita trava. Às vezes a gente quer fazer alguma coisa, mas tem de fazer uma licitação, tem a Progem [Procuradoria-Geral do Município], tem a Congem [Controladoria-Geral do Município], tem a análise da Engenharia, tem a equalização. Tem várias fases para fazer o processo legal e a fase também da legitimidade, que é você procurar executar as coisas em sequência e é essa a nossa visão.

Zé Dudu – Nesses 26 anos de política, o senhor tem algum arrependimento?

Tião Miranda – Eu sempre tive uma filosofia: nunca fiz aliança na política para eleição a prefeito dando secretaria para partidos. Todo mundo sabe que meus secretários são escolhidos a dedo, por mim. As pessoas que são meus secretários têm um compromisso com o município que é um compromisso comigo. Não estão ali para atender partido A, B ou C.

Zé Dudu – Nesses 26 anos de política, algum arrependimento?

Tião Miranda – Eu tenho poucos arrependimentos na política, digo sinceramente. Lógico que eu poderia estar na iniciativa privada, tranquilo. Eu sei que hoje, se as coisas dão errado, o primeiro a ser xingado é o político. As pessoas colocam todo mundo numa vala comum e isso é ruim, porque a política foi criminalizada. É lógico que alguns espertalhões se envolveram na política, mas a gente também sabe que há duas maneiras de mudar o mundo: pelas armas, desde o tempo dos faraós; ou pela política. Não tem outra maneira.
Você pode ver que um país é governado por uma ditadura ferrenha ou pelo processo democrático. Hoje se usa muito o parlamentarismo, em países da Europa, como Austrália, Inglaterra, França. Então, o sistema hoje mudou, as coisas estão evoluindo, mas nós sabemos que só há essas duas maneiras de mudar o mundo. Por meio das armas ou pela política, da diplomacia, do processo, da conversa. E eu acho que o Brasil é um país novo, que já apanhou muito, fez uma Constituição que protegeu demais – deveria ser mais enxuta – criou muitos mecanismos e o país precisa avançar. Avançar na geração de emprego, na geração de renda, que é a oportunidade para o cidadão vencer na vida.

Zé Dudu – Como o senhor se sente tendo mais de 80% de aprovação do seu governo?

Tião Miranda – Eu sinto que estou no caminho certo, que é o caminho do trabalho, de fazer as coisas com seriedade, pagar as contas, levar as coisas para a comunidade, sempre preocupado com que aquilo vá beneficiar mais. Eu não sou aquele político de dar tapinhas nas costas, de estar em tudo o que é casamento, aniversário; eu sou um político que tenho a minha vida, um executivo que trabalha muito. Eu penso na comunidade. Eu fico pensando aqui no que eu posso fazer pela comunidade – um colégio, um posto de saúde, uma drenagem, uma pavimentação de rua, uma iluminação, e tenho a minha vida privada, chega o sábado e o domingo eu me isolo na minha casa…

Zé Dudu – E como é um governo com grande índice de aprovação, como o seu, trabalhar dentro da Lei de Responsabilidade Fiscal – uma vez que, como você disse há pouco, a licitação engessa o processo? Como é ter essa harmonia com a LRF?

Tião Miranda – Eu acho que é assim: a gente sempre acompanha a receita e despesa; sempre está comparando e há sempre uma reserva. E o importante aí é saber que gestão são números, é matemática pura. A gente não pode gastar o que não arrecada. É lógico que numa prefeitura você tem de investir o que arrecada, não pode fazer um caixa e ficar ali sem investir. Então nós vamos fazendo os investimentos – temos percentuais mínimos na educação; da saúde, que hoje consome quase o dobro, que é a pasta em que mais se gasta, é a pasta mais complicada. Na educação, também, a gente atinge um bom nível. E é sempre esse equilíbrio das contas.

Zé Dudu – Então o gestor tem de, obrigatoriamente, monitorar as contas do município todos os dias?

Tião Miranda – É o dia a dia. Todos os dias você tem de olhar as contas: saldo, o que entrou, as despesas obrigatórias, o custeio da máquina, a capacidade de investimento, as contrapartidas de convênios. Essa é uma equação que você tem de resolver no dia a dia, tem de ter aquela vontade de fazer e gostar de fazer isso. Porque é complicado, é como a vida da gente, só que uma vida da gente bem maior – temos 8 mil e poucos servidores, muitas empresas que precisam de nós. Muita gente precisa da prefeitura; precisa receber em dia e isso movimenta a cidade. Então, a gente olha com muita responsabilidade a despesa e a receita.
Na minha campanha eu não prometi obra nenhuma. A única coisa que eu prometi foi o seguinte: o que eu prometesse eu cumpriria e pagar o que eu comprasse. O que a gente promete aqui, a gente cumpre; o que a gente compra, a gente paga.

Zé Dudu – Há alguma promessa de campanha que não tenha sido cumprida?

Tião Miranda – Eu prometi muito trabalho. Prometi, inclusive, na época, remédio amargo para consertar as contas da cidade. “Vai ter um remédio amargo, um purgante forte, porque a prefeitura está em situação difícil, pra poder consertar”. E dei remédio amargo no início, mas agora as pessoas viram que foi benéfico. A prefeitura se estruturou e vamos caminhando.

Zé Dudu – Uma administração bem aprovada como a sua – por mais que o senhor seja competente e dedicado –, tem um bom corpo de auxiliares. O senhor se reúne com o seu secretariado?

Tião Miranda – Não. Todos os dias, se algum secretário tem problema, vem aqui despachar comigo. Não há reunião porque eu acho que cada pasta tem suas particularidades. Se tem problemas eu os recebo aqui no dia a dia, como recebo os vereadores, e despacho. Eu sou só o maestro, a orquestra trabalha afinada.

Zé Dudu – Como é a sua relação com a Câmara Municipal? A gente vê, em vários municípios, vereador indicando secretários…

Tião Miranda – Eu acho que cada macaco no seu galho. Eu respeito o Poder Legislativo, temos uma relação republicana, em cima de benefícios que os vereadores pedem para os seus bairros, para as suas bases – a gente trabalha isso; sabemos também que eles precisam disso, mas essa questão de secretários, não. Eu escolho meus secretários, que são pessoas que realmente têm compromisso comigo e com o município, porque do jeito que eu nomeio, posso tirar. A gestão é de executar, de melhorar lá o seu bairro, seu reduto.

Zé Dudu – Quer dizer que aqui, em Marabá, vereador não indica secretário nem reivindica cargo?

Tião Miranda – Não. Eles vêm muito mesmo é pedir investimento. Aqui, a gente já passou dessa fase. A nossa fase já está bem mais republicana, bem mais avançada. Eles trabalham muito em cima de investimentos para os locais deles, para os bairros deles. Hoje temos com a Câmara uma relação muito republicana.
Os projetos do Executivo quando vão [para a Câmara] são trabalhados, explicados – mostramos para eles o que é de interesse da comunidade e a Câmara tem sido uma grande parceria minha. Esse exemplo da Câmara daqui é bom até para o estado; é salutar. Vejo outros municípios aí em que o vereador é dono da secretaria tal. Quer dizer, o compromisso não é com a população; o compromisso é com o partido. Isso aí é complicado, cria um problema seríssimo.

Zé Dudu – E como é o Tião Miranda fora da prefeitura? A pessoa física Tião Miranda?

Tião Miranda – O Tião Miranda sempre foi o Tião Miranda, antes da prefeitura. Nasceu aqui em Marabá, no Cabelo Seco [hoje Bairro Francisco Coelho], anda sozinho, tem os filhos. Os amigos são sempre os mesmos, não criou mais amigos depois da política, faz a caminha dele durante uma hora, sozinho. Nunca gostei de guarda–costas, nunca gostei de andar com seguranças, porque eu acho que isso aí… Ser prefeito é muito mais ônus do que bônus.

Zé Dudu – É, mas ser prefeito com 87% de aprovação é mais fácil.

Tião Miranda – O povo vê que a gente está trabalhando muito pela cidade, estamos fazendo o nosso melhor. A gente se furta… Se você olhar as minhas diárias de 2017 e 2018, são muito poucas. Eu saio muito pouco da cidade – quando eu vou a Brasília é para resolver; quando eu vou a Belém é a mesma coisa. Então você vê que eu sou um cara muito dedicado a Marabá, nesses dois anos e meio de prefeitura não tirei um dia de férias. Eu tenho uma filha que mora na Austrália há 15 anos; eu não fui visitar a minha filha. Por quê? Eu sou muito focado, muito determinado e gosto das coisas sob controle; de fazer as coisas – não é fácil fazer, realizar é difícil. Você não faz obras nem com recurso na conta, se você não estiver determinado, se não estiver fiscalizando, olhando, as coisas não acontecem.
É o que acontece no Brasil: as coisas são muito travadas, muito dificultosas. O sistema é muito travado, muitas questões ambientais, muitas coisas que travam demais o sistema. Esse nosso modelo de licitação é ultrapassado. Às vezes a empresa que ganha a licitação só tem uma pastinha [de documentos]; você sabe que ela não tem condições de executar a obra, e isso só vai criar mais dificuldades e deixar muito mais caro.
Tem de focar para as coisas andarem e não é fácil. Essa dedicação é uma missão minha, que é administrar a cidade de Marabá. E vamos trabalhando que Deus vai ajudando!

6 comentários em “ENTREVISTA EXCLUSIVA: Tião Miranda, prefeito de Marabá

  1. Elisangela Gomes Responder

    Esse é meu prefeito homem integro serio.o unico que consegue deixar maraba com cara de cidade decente

  2. Francisco das Chagas Souza Matos Responder

    Realmente Marabá mudou muito sua cara em termos de administração das contas públicas, na aparência da cidade, no compromisso com fornecedores. no entanto eu não vi nenhuma pergunda do reporter na questão Gestão e Servidor Público. Será que vai terminar essa gestão e o serrvidor do município de Marabá nunca será notado? afinal de conta não é este que está na linha de frente? É inegável que a cidade de Marabá mudou muito nesta nova gestão, mas não podemos atribuir tudo isso somente ao gestor! afinal de contas quem vive na linha de frente são os servidores que estão dia a dia, faça sol ou faça chuva, e aí…? como fica essa relação…? ¨ Todos sabem que para ter um carro não é preciso apenas saber dirigir, mas tambem dar as manutenções adequadas no veículo, abastecer, e está de olho na quantidade de carga que este possa carregar, caso isso não aconteça.., um dia ele pode parar, e aí, como fazer..? Pegar no tranco…!?¨.

  3. Natanael Responder

    É notório o compromisso e a responsabilidade do gestor visando atender as inúmeras demandas da população, contudo o prefeito deveria ser mais sensível também com as demandas dos servidores, que são parte importante neste processo. Há 4 anos sem reajustes dos salários e do visa vale, entre outras pautas e até agora o gestor não tem tido boa vontade para pelo menos agendar uma reunião com os representantes dos servidores para tratar das pautas da categoria.

  4. Leandro Burlamaqui Responder

    Ah se Jacundá, Tucuruí, Nova Ipixuna, Itupiranga e Parauapebas tivessem, cada uma, um Tião Miranda!

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