Em parto mais demorado da história, Uepa vem à luz em Parauapebas

Convênio para três graduações, quatro especializações e dois mestrados acadêmicos será assinado às 18 horas de hoje. Seletivo é em janeiro e 60% das vagas são para alunos do município

Continua depois da publicidade

Eles nasceram. E são trigêmeos. Enfim, chegaram os primeiros cursos de graduação regulares pela Universidade do Estado do Pará (Uepa) em Parauapebas, aguardados há mais de uma década. Os pretensos candidatos a entrar na universidade em Parauapebas ainda não viram falar disso porque os “trigêmeos” Biologia, Matemática e Engenharia de Software ainda estão na incubadora, já que o parto foi delicado e exigiu esforços intensos da própria Uepa e da Prefeitura de Parauapebas, por meio da Secretaria Municipal de Educação e da Coordenadoria de Projetos e Convênios do gabinete de Darci Lermen.

Hoje, quinta-feira (19), às 18 horas, uma caravana da Uepa vai estar no auditório da prefeitura para assinar convênio com o prefeito Darci e dar largada à instalação dos primeiros cursos contínuos no município. A Uepa já esteve em Parauapebas, mas amparada por terceiros, como a Universidade Aberta do Brasil (UAB) e o Programa Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor). Agora, de maneira inédita, vem caminhando com as próprias pernas, auxiliada pela gestão municipal.

A garantia expressa e convicta do nascimento saiu ontem (18) no “Relatório de Atividades 2019” da instituição, que traz, em sua página 12, a indicação das três graduações já citadas, mais quatro especializações (Gestão Pública, Saúde Coletiva, Psicologia Educacional e Teorias e Metodologias em Educação Básica) e dois mestrados (Ensino de Matemática e Ciências Ambientais). Esta é a primeira vez em que o nome de Parauapebas consta, oficialmente, do relatório da Uepa, que é o cartão de visitas da universidade detentora de 21 campi, 128 cursos de graduação e 17 mil estudantes. O custo da cesariana para o município dessa jovem senhora instituição é de R$ 9,54 milhões.

Mobilização antiga

O sonho de ter um campus da Universidade do Estado do Pará em Parauapebas vem sendo relatado em verso e prosa há mais de uma década, com fortes emoções e um mix de frustração e abandono. Foram muitas as inseminações artificiais e as expectativas criadas. Tudo começou em 2008, quando o prefeito Darci Lermen, que estava no último ano de seu primeiro mandato, marchou a Belém junto com estudantes de ensino médio para reivindicar um campus. Saiu de lá de mãos abanando.

Em 2010, já em seu segundo mandato, Darci fez outra caravana e se mandou até a capital do estado com outros alunos atrás de soluções para a mesma pauta. O Blog do Zé Dudu até reportou a ida do prefeito naquela ocasião (relembre aqui), quando, dias antes, estudantes de ensino médio chegaram a fechar a portaria de acesso à Carajás revoltados com o fato de terem de se deslocar até Marabá para fazer as provas de vestibular da Uepa.

Darci saiu em 2012, entrou o prefeito Valmir Mariano. Em 2014, Valmir e a universidade alinharam convênio para implantação do campus e com a perspectiva de implantar em pouco tempo os cursos de Enfermagem, Letras (habilitação em Língua Portuguesa) e Música, conforme pode ser relembrado em publicação (aqui) do Blog. A ideia era boa, viável e parecia avançar.

Em 2016, último ano de gestão de Valmir, foi assinado o convênio para implantação do campus da Uepa (veja aqui), sob o olhar de autoridades, lideranças políticas e comunidade, com a expectativa do desembarque de vários cursos de graduação “em breve”.

Bodas de Zinco

Valmir perdeu as eleições para Darci, que ressuscitou a ideia da Uepa em 2018, quando ele, secretários seus e vereadores rumaram a Belém atrás da universidade e de sensibilizar o Governo do Estado e deputados para a causa de Parauapebas. Sob o comando de Darci, a vontade de ter a Uepa alcançou no ano passado as “Bodas de Zinco”, pelos dez anos por aquela que foi sem nunca ter sido.

Ainda assim, houve avanços positivos em 2018, e a implantação da Uepa passou a ganhar duas frentes de trabalho: uma para a instalação de cursos, liderada pela Secretaria Municipal de Educação e Coordenadoria de Projetos e Convênios; e outra para construção do campus, sob comando da mesma Coordenadoria e da Secretaria Municipal de Obras. Tudo ocorreu em sincronia com a Uepa, mediante muita discussão, revisão de projetos e planos estratégicos.

Este ano, até uma lei de reserva de 1,7% da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem) para criação de um Fundo de Incentivo às Ações de Ensino Superior (Fiaes) foi aprovada na Câmara e sancionada pelo prefeito Darci, mas acabou paralisada por problemas de redação e efeito prático. Além disso, o escopo do projeto do prédio universitário foi remodelado e atualizado para um cenário financeiro mais razoável e as conversações sobre quais cursos viriam foram intensificadas.

O professor Osvando Alves, diretor da Pró-Reitoria de Extensão, sofreu muita pressão para encontrar cursos viáveis tanto à Uepa quanto à prefeitura. Enfermagem, por exemplo, cotada para vir em 2020, só deve desembarcar em Parauapebas no vestibular de 2021. Entre outros problemas, a Uepa tem dificuldade de se expandir pelo interior porque seu Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR) está travado, impedindo concursos de grande monta para ampliação do quadro de docentes e técnicos administrativos. Sem professor a universidade não funciona.

Muito perdermos

Em 11 anos de espera de Uepa, Parauapebas perdeu muito. Sua população, no entanto, saltou de 145 mil para 208 mil habitantes no período, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Hoje, 61 mil cidadãos têm ensino médio completo no município, sem graduação, e só há 9.800 pessoas com diploma de faculdade por aqui. Os universitários atualmente totalizam 5.700, segundo o censo da educação superior mais recente, e é o menor número entre os municípios brasileiros com mais de 200 mil habitantes.

De 2008 para cá, a Universidade Federal do Pará (UFPA), que nem campus possui por aqui, já formou cinco turmas de engenheiros, duas de bacharéis em Direito, entre outras. A Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) já formou dezenas de zootecnista, agrônomos, engenheiros florestais, abriu turmas de Engenharia de Produção e Administração, bem como um mestrado em Produção Animal, o primeiro do município. O Instituto Federal do Pará (IFPA) abriu uma turma de Automação Industrial, com status de curso superior, e quer se expandir por aqui nos próximos anos com a oferta de graduações bastante competitivas.

A Uepa, ainda na incubadora, inicia hoje — e mais uma vez — sua caminhada da esperança para tantos jovens de Parauapebas, entre os quais cerca de 12 mil estudantes de ensino médio, sendo que 2.500 já concluem o 3º ano por estes dias. Que ela seja bem-vinda, tenha vida longa e próspera. E que, principalmente, contribua com o desenvolvimento humano e o progresso social de que o município — o mais carente de ensino superior entre lugares ricos — tanto precisa.