Drogas: entre o começo e o fim da guerra

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Por Wagner Caldeira ( * )

imageA recente aprovação, pelo congresso uruguaio, da legalização do plantio e comercialização da maconha no país foi vista com olhos de desconfiança pelos países que ainda acreditam que podem acabar com as drogas no mundo. No entanto nos lugares onde os governantes já se convenceram que a guerra às drogas falhou vergonhosamente, a decisão do Uruguai – que ainda precisa passar pelo Senado – foi comemorada como um dos maiores avanços nas políticas de drogas não só da América Latina, mas do mundo todo.

Pra se entender o motivo desse entusiasmo é necessário que se faça um resgate dos fatos que vieram confluir na certeza, ainda adotada pelo governo brasileiro, de que o melhor é reprimir o uso e a produção das drogas, tomando a questão como assunto de polícia e não de saúde.

Após os 13 anos desastrosos de proibição do álcool nos Estados Unidos (de 1920 a 1933), o escritório federal de narcóticos daquele país se viu em vias de ser extinto junto com a lei seca. A única solução possível para que se mantivessem verbas e empregos da repartição era eleger um novo inimigo. Encontraram na maconha o vilão ideal, já que era uma droga largamente usada pelos latinos. Mataram dois coelhos: mantinham o ganha-pão e se livravam dos estrangeiros indesejáveis e de muitos negros. Em 1937 o plantio e consumo da maconha foram proibidos nos EUA.

E mais: em 1961, os Estados Unidos lideram a Convenção Única Sobre Drogas Narcóticas, convencendo todos os países assinarem um documento se comprometendo a combater o tráfico e o consumo. Estava declarada a guerra às drogas como um posicionamento global que tinha o nada humilde objetivo de acabar com todas as drogas do mundo.

Filmes como Cortina de Fumaça, Quebrando o Tabu e The House I Live In (ainda não lançado no Brasil) mostram com imagens e dados como a guerra às drogas matou mais pessoas que a própria droga; como foram gastos, só nos Estados Unidos, mais de um trilhão de dólares e a produção de drogas só aumentou; como a população carcerária do mundo aumentou assustadoramente sem que houvesse qualquer impacto no aumento do tráfico de drogas. Resumindo: a guerra às drogas fracassou miseravelmente.

É essa a guerra que agora o Uruguai resolve por fim, desobedecendo a convenção de 1961. José Mojica se inspirou nos erros e acertos de outros países. Como a Hollanda que criou os Coffee Shops, bares especializados na venda de maconha. Essa experiência resultou numa diminuição drástica no uso de drogas mais pesadas pelos jovens, já que eles não precisam mais recorrer ao tráfico pra comprar a maconha e assim não entram em contato com drogas mais pesadas ofertadas pelo traficante. O mais importante é que não aumentou o consumo da própria maconha, como muito acreditavam que ia ocorrer. O problema é que o plantio não foi legalizado, sendo ainda considerado um crime. Assim, os Coffe Shops estão fechando porque compram do tráfico.

Alguns países também estão tentando formas mais racionais de lidar com o consumo de drogas. Espanha, Portugal e alguns estados americanos são alguns deles. No Brasil, infelizmente ainda domina a mentalidade de que droga é uma questão de segurança, e não de saúde. O país ainda está ocupado com a guerra às drogas. Um exemplo disso é o PLC 37/2013, de autoria do deputado Osmar Terra que aumenta a pena pro traficante (independente da quantidade de droga que ele esteja portando); autoriza qualquer profissional de saúde ou um familiar a solicitar internação de um usuário de droga, entre outros equívocos. Caso o projeto entre vigor, o traficante terá uma pena maior que o assassino e precisaremos de muitos mais presídios pra abrigar tanta gente, o que não diminuirá o tráfico, já que o pequeno traficante varejista que é preso é facilmente substituído por outro, saindo um criminoso bem mais perigoso após o período de detenção.

Pessoalmente torço pelo Uruguai. O presidente José Mojica tá mostrando coragem e sobretudo pragmatismo ao deixar de esmurrar a ponta da faca da droga, propondo algo novo com os pés firmes na realidade.

* – Luis Wagner Dias Caldeira é psicólogo formado pela UFPA, especialista em saúde mental pela UFRJ, referência técnica em saúde mental, álcool e outras drogas na região sudeste do Pará e psicólogo do Centro de Saúde Cidade Nova em Parauapebas, twitteiro ( @wagnerdc ) e colaborador intimorato deste Blog.

9 comentários em “Drogas: entre o começo e o fim da guerra

  1. Rinelle Responder

    Esse caso é polêmico, mto polêmico. E mtos preferem tampar o sol com a peneira, enxergam de um lado só. E temos visto cada vez mais pessoas se envolvendo nesse mundo. E o que fazer esta em nossas maos, lutar, expor ideias e mostrar por A + B que isso pode ser mudado.

  2. allan Responder

    Parabéns Wagner,
    Excelente texto e postura critica apurada para quem conhece a causa.
    O problema do nosso País é o achismo, estamos cheios de tecnocratas com experiencias do umbigo que acham que vai dar certo e ai já viu. não utilizamos o conhecimento e os dados.
    Mas cremos que um dia mudaremos essa postura.

  3. ALERTA GERAL ! Responder

    QUE DEUS LHE ABENÇOE !

    PELO VISTO VOCE ESTA IMUNE A ESTA DESGRAÇA !

    DESCONHECE SEUS DESDOBRAMENTOS E SOFRIMENTO !

    RESPEITE AS CRIAMÇAS !

    O DIA ELA PODERA ESTAR BEM PROXIMO !

    AI VOCE VERÁ COM QUANTOS PAUS SE FAZ UMA CANOA !

  4. Wagner Dias Caldeira Responder

    Senhor ou Senhora Alerta Geral,

    Muito oportunas as suas observações por serem o eco daquela parcela da população que, à mínima menção da palavra droga, já levanta todas as defesas em volta dos bons costumes, da segurança e da proteção às crianças. O problema é que, no susto, acaba se fechando também para o exercício da discussão.

    Primeiro devo lhe falar que legalizar não é liberar. Liberado é o álcool que, por exemplo, vc pode consumir em qualquer lugar e em qualquer quantidade. Uma droga legalizada vc tem lugares reservados especificamente pro consumo e cada pessoa tem uma quantidade diária determinada que pode ser comprada. No Urugauai, hoje, as pessoas fumam maconha em qualquer lugar (o consumo é liberado atualmente, apesar de que a venda e a plantio serem ilegais). De da legalização, os uruguaios só vão poder fumar em determinados locais, como na Holanda com seus coffee shops.

    Segundo, a legalização visa combater o tráfico e não fortalecê-lo. Veja, a maior parcela de usuários de drogas ilícitas é de usuários de maconha. Essas pessoas compram maconha do traficante, porque a maconha é ilegal. Então eles fortalecem o tráfico e sempre estão correndo riscos de serem mortos por dívidas ou de começarem a usar uma droga mais pesada, tipo o crack, que o traficante oferece por ser mais lucrativo.

    O mais interessante da proibição das drogas é o seguinte: quando um pequeno traficante é preso vendendo droga, ele é preso. Ele vai pra cadeia e rapidamente o grande traficante recruta um jovem pro posto daquele que tá preso. Aí esse novo jovem traficante é preso, aí outro é recrutado, e assim vai. Ou seja, a proibição foi criada pra proteger os jovens, mas acaba incentivando os jovens ao crime do tráfico.

    Enfim, assim como a Sara falou, ninguém está fazendo apologia às drogas. A maconha continua sendo uma droga, ninguém tá dizendo que é bom ou que não vicia. A legalização visa unicamente quebrar o crescimento do tráfico e se mostrar uma alternativa ao fracasso que foi a guerra às drogas.

    Abraço.

  5. Alerta geral ! Responder

    Deixe o cartel da FARC !

    Cuidar de seus filhos !

    Belo exemplo a esta apologia !
    Drogas só se venci com a guerra !

    Traficante não perdoa mata !

  6. Sara Giusti Abreu Responder

    Parabens Wagner, pelo texto esclarecedor.
    Lembrando que nao fazemos apologia do uso de drogas, como alguns querem fazer parecer. Apenas alertamos para o que está por trás dessas probições, que são questões politicas muito, muito sérias, cujas consequencias também deixam enormes danos e mortes.
    Temos que superar essa visão que hoje é dominante no Brasil, e discutirmos com a sociedade o que é melhor para nosso país. Parabenizo o Uruguai pela coragem, isso so comprova o que já li em várias revistas e publicações sobre a America Latina.
    E sim, temos parentes proximos que sofrem com o problema; temos pacientes que sofrem, familias que adoecem. Por isso mesmo, sabemos que essas formas de tratar a questão estão mais do que falidas.
    E ainda assim, nao podemos nos acovardar.

  7. Telma Christiane de Oliveira Dias Responder

    Excelente texto Wagner, também concordo que a droga é uma questão de saúde e não de segurança.

  8. ALERTA GERAL ! Responder

    DROGAS É UMA QUESTÃO DE SEGURANÇA SIM !
    UM DROGADO MATA ESTRUPA E COLOCA INOCENTES MUTILADOS DEVIDO SUA INRESPONSABILIDADE E FALTA DE CONTROLE !

    TEMOS QUE SERMOS CADA VEZ MAIS RIGOROSOS NO TRANSITO, NAS ESCOLAS E AMBIENTES PUBLICOS !
    SÓ ASSIM ESTAREMOS LIVRES DESTA PESTE QUE ACABA COM QUALQUER FAMILIA!
    O URUGUAI NÂO É REFERENCIA PARA O BRASIL!
    QUANTAS FAMILIAS CHORAM POR IMPACTOS CAUSADOS PELAS DROGAS !

    ESTE RAPAZ QUE APOIA ESTA TESE DEVE TER OUTRA REALIDADE E NÃO SABE O QUE É SOFRE COM FILHO RECRUTADO PELOS BANDIDOS DENTRO DA UNIVERSIDADE ! MESMO COM UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE !
    OU COM UM PARENTE ATROPELADO NA CALÇADA POR UM MOTORISTA DROGA E IRRESPONSÁVEL !
    ELE COMO ESPECIALISTA EM SAUDE MENTAL DEVE SABER QUE EXISTE MUITO DOIDO ANDANDO POR AI SOBRE EFEITO DE DROGAS QUE ELES MESMOS RECOMENDAM EM SUAS RECEITAS E TRATAMENTO TERAPEUTICOS !
    VEJA SE ESTE POSICIONAMENTO É DIGNO !

    Pessoalmente torço pelo Uruguai. O presidente José Mojica tá mostrando coragem e sobretudo pragmatismo ao deixar de esmurrar a ponta da faca da droga, propondo algo novo com os pés firmes na realidade.

    DROGA NÃO É PONTA DE FACA MEU CARO É ASSUNTO SERIO QUE ESTERMINA MUITAS FAMILIAS1

    TRAFICANTE NÃO É CIDADÂO QUE MERECE PENA ! DEVE SER EXTERMINADOS!
    CARTEL DE MEDELIM FOI ASSIM – PABLO ESCOBAR FOI CASSADO E EXCUTADO !
    ELES NÂO TEM PENA E MEM DÓ DE PAI DE FAMILIA TRABALHO EXECUTAM E COMEMORAM!
    QUERRA AO TRAFICO !

  9. Cauan Pirí Responder

    Muito coerente o texto, Zé! O que a população não aceita é a ” liberação” das drogas no conceito do trafico e demais drogas pesadas. Por que não faz sentido, num país onde o álcool é o maior causador de mortes e destruição, a população abraça como normal, como também o tabaco. Dizer que a liberação vai diminuir o uso da maconha, tenho minhas duvidas, mas esse não seria o principal objetivo, o que se discute é a legalização para se usar a maconha, tão quando a cerveja nos bares e botecos. Morei muitos anos na Suíça, entre outros países em que a maconha faz parte do cardápio das drogas ” recreativas”, muitos tem sua própria planta em suas casas para consumo próprio sem nenhum constrangimento.

    Sou totalmente contra qualquer tipo de droga, principalmente o álcool, pois diariamente leio e vejo nos jornais mortes e mais mortes relacionados ao consumo exagerado, e não me lembro de nenhum caso onde alguém morreu ou matou porque fumou um cigarro de maconha.

    O maior pavor dos traficantes sem dúvida é, de um dia a droga ser controlada pela indústria, assim como é do tabaco e do álcool. Pois o império desses narcotraficantes estaria extinto.

    E por falar em hipocrisia, coisa que o brasileiro tem demais quando se refere as drogas.

    Chega o final de semana, o pai vai assistir seu jogo de futebol e já enche uma geladeira de cerveja, bebe como um desgraçado ao lado dos filhos como se aquilo fosse normal também.

    Se formos realmente ser radical com a s drogas que façam como nos Emirados Árabes, o consumo de álcool é permitido somente para não-muçulmanos em lugares licenciados, como restaurantes, bares e espaços privados, bem como nas residências particulares (para residentes detentores de licença para aquisição de álcool).
    Deve-se observar a idade mínima para consumir álcool legalmente (18 ou 21 anos, dependendo do emirado). Em Sharjah, bebidas alcoólicas não são disponíveis.

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