Despedida a Haroldo Martins reúne políticos de vários partidos

Entre os presentes, Simão Jatene (PSDB) e Ana Júlia Carepa (PT), além de colegas do parlamento. Corpo do ex-deputado foi cremado e cinzas devem ser lançadas nas águas do rio de Cametá.

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Políticos dos mais diversos partidos e diferentes posições ideológicas fizeram questão de, nesta quinta-feira, 8, dar o último adeus ao médico e ex-deputado estadual Haroldo Martins (DEM), cujo corpo foi velado no hall da Assembleia Legislativa até por volta das 15h30 e de onde foi levado, em cortejo, para o Parque das Palmeiras, onde foi cremado.

“A intenção é jogar as cinzas nas águas de Cametá, a terra dele. Ele tinha esse desejo do retorno para a terra dele. É uma forma simbólica que a gente tem de homenageá-lo devido ao carinho que ele sempre teve por Cametá”, disse o filho do ex-parlamentar, Haroldo Martins Silva Júnior, que a exemplo do pai segue a carreira de médico da mesma forma que a irmã, Bárbara Martins.

Haroldo Martins faleceu em um hospital São Paulo na última terça-feira, vítima de adenoma de paratireoide, um tumor que aumenta a concentração de cálcio no sangue e provoca sérios problemas no organismo. Segundo Martins Júnior, tudo foi muito rápido. Num espaço de três dias, o ex-deputado saiu de um estado de saúde que parecia normal até apresentar um quadro clínico grave da doença, sendo levado às pressas para São Paulo com suspeita, a princípio, de encefalite.

“É uma perda lamentável, surpreendente porque ele esteve conosco fazendo uma visita ao TCM, em torno de dez dias atrás, e inclusive fazendo projetos para o futuro. Realmente a notícia nos chocou, nos surpreendeu. Lamentamos. O Estado do Pará perde um grande paraense, e peço a Deus que possa confortar a família e que o exemplo do Haroldo possa permanecer para atual geração”, declarou o vice-presidente do Tribunal de Contas dos Municípios, o ex-deputado tucano Cezar Colares, que por dez anos conviveu com Haroldo Martins na Assembleia Legislativa.

Segundo Colares, Haroldo Martins estava animado e planejava concorrer à Prefeitura de Cametá nas eleições municipais de 2020. Com o seu falecimento, aos 67 anos de idade, ele deixou a esposa Maria Augusta e o casal de filhos médicos Haroldo Júnior e Bárbara Martins, que receberam muitos abraços e apoio durante o velório, por onde passaram centenas de pessoas, inclusive do interior do Estado, que fizeram questão de prestar uma última homenagem ao médico e ex-parlamentar.

“Eu lamento porque o Haroldo sempre foi uma pessoa que trabalhou pelo bem do povo, trabalhou muito e, como médico, ajudou a salvar vidas. A gente fica triste. Vim aqui dá um abraço e dizer que o que ele fez, fica. Já está na história”, assinalou a ex-governadora do Pará e ex-senadora Ana Júlia Carepa (PT), que exerceu mandato de vereadora de Belém juntamente com Haroldo Martins, a partir de 1992, quando ele ainda era do PFL.

Um homem de diálogo

O espírito democrático de Haroldo Martins assim com a plena dedicação às pessoas mais carentes são as características destacadas por todos que conviveram com Haroldo Martins. “Era uma pessoa que, independente do partido dele, ele dialogava e era uma pessoa muito boa. Por ser médico, ele ajudava as pessoas como um todo”, reconheceu Ana Júlia.

“Foi súbito o falecimento dele, um homem que sempre se preocupou muito com as pessoas. Dr. Haroldo, no convívio comigo na secretaria, como médico, sempre foi um homem muito íntegro, muito respeitoso”, elogiou a deputada e também médica Heloísa Guimarães (DEM). “Fica o legado de uma vida de dedicação, de luta, em especial pela saúde de Cametá e a gente vai continuar os ensinamentos que a gente teve com ele”.

O carinho das pessoas na despedida do marido emocionou a família, em especial a viúva, Maria Augusta Martins, que já foi vítima de AVC e sempre recebeu os cuidados do marido “que soube construir uma família, que soube criar junto comigo nossos dois filhos, que nos ensinou que o poder não era nosso, que o poder vinha do povo e era pra ele servir o povo”.

E tanto servia o povo que era comum a família sentir a ausência de Martins. “Vejo as pessoas que aqui vêm chorando, as pessoas que aqui vêm para nos agradecer. Era esse exatamente o motivo pelo qual ele se propôs a entrar na vida pública, que era servir. Servir com seu conhecimento científico como médico e, mais do que isso, servir o povo com o mandato que a ele foi legado”, disse uma emocionada Maria Augusta.

Um pouco de Haroldo Martins

E partiu do filho relatos que retratam bem a personalidade do pai, que saiu de Cametá para Belém aos 20 anos de idade, apenas com a 5ª série do nível fundamental. Na capital, serviu a Marinha por dois anos durante o Regime Militar. Mas o que ele queria era estudar. Assim, fez supletivo e, em um ano, concluiu o ensino médio para encarar o vestibular da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Primeiro, Haroldo Martins cursou Direito. Passou em primeiro lugar, mas no último ano se decepcionou com o curso e desistiu. “Nesse período que estudou Direito, ele passou em 10 concursos públicos”, contou Martins Júnior. Mas o pai resolveu que seria médico e passou em Medicina, também pela UFPA. Estudava durante o dia e trabalhava à noite no Banpará, no chamado “turnão”, quando balanço era feito manualmente.

“Ele era disciplinado, esforçado, dedicado para tudo que se propunha. Ele tinha uma ética de trabalho absurda. Meu pai era de domingo a domingo (trabalhando)”, contou Martins Júnior, para afirmar que, mesmo após entrar na política, Haroldo Martins não suportava holofote, daí dificilmente participar dos eventos para os quais era convidado com frequência. “É paradoxal para a política, né? Mas não era isso (holofotes) que atraía ele”, garantiu o filho.

De personalidade calma e simples, o que Haroldo Martins gostava era “de gente”, do contato com as pessoas, frisou o filho, que não projeta seguir a carreira política do pai. Quer apenas preservar o legado e a memória dele. “Não tenho como falar do convívio diário que vou perder, sou médico, cirurgião, eu sempre me preocupei em orgulhar o meu pai porque eu reconheço que eu nasci em uma condição bem diferente de quando ele começou”, declarou Martins Júnior.

Diante das manifestações de carinho no velório, o filho agradeceu: “A gente fica muito feliz, como família. É muito gratificante perceber o quanto ele conquistou o respeito dos colegas”. Entre as autoridades que participaram das últimas homenagens a Haroldo Martins o ex-governador Simão Jatene, o ex-senador Flexa Ribeiro, os atuais deputados Eliel Faustino (DEM), Raimundo Santos (Patri), Wanderlan (MDB), Carlos Bordalo (PT); os ex-deputados estaduais Márcio Miranda, ex-presidente da Alepa, José Megale, Adenauer Goes, Luiz Sefer, Tetê Santos, Nadir Neves, Lourdes Lima e Rosa Hage TCE.

Por Hanny Amoras – Correspondente do Blog em Belém