Chuvas derrubam produção em Carajás em quase 40%, revela Vale

Segundo multinacional, derrocada épica das minas de Parauapebas foi compensada pelo dinamismo de S11D, em Canaã, que se encontra em pleno avanço da capacidade produtiva.

Continua depois da publicidade

Chuvas “anormais” no porto de Ponta da Madeira e em Carajás levaram a uma queda brusca na produção de minério de ferro nos primeiros três meses deste ano. Pela primeira vez na história, a produção física da mineradora multinacional Vale na Serra Norte de Carajás, no município de Parauapebas, despencou quase 40% de um trimestre para outro.

As informações — que o Blog do Zé Dudu já vinha monitorando e antecipando — foram confirmadas nas últimas 48 horas pela Vale, que fez uma maratona de apresentação de seus balanços (o de produção física e o financeiro) ao mercado. A produção de minério de ferro em Carajás no primeiro trimestre deste ano ficou em 23,03 milhões de toneladas (Mt), 37,8% menor em relação aos 37,02 Mt do trimestre encerrado em dezembro de 2018. E é 20,4% inferior à produção do primeiro trimestre do ano passado.

Já em S11D, que processou 17,99 Mt no trimestre, a produção avançou 54% em relação aos primeiros três meses de 2018. Juntando a produção do minério em Parauapebas (Serra Norte), Canaã dos Carajás (Serra Sul) e Curionópolis (Serra Leste), o chamado Sistema Norte acumulou 41,02 Mt no primeiro trimestre de 2019, pouco acima dos 40,6 Mt do mesmo período do ano passado. Esse crescimento discreto, de 1%, deve-se à explosão da produção de S11D, que compensou a baixa estratosférica nas minas N4E, N4W e N5 em Parauapebas.

A própria Vale assume que o decréscimo em Carajás “foi parcialmente compensado pelo bem-sucedido ramp-up do S11D”. Além disso, o mercado já finaliza que a mineradora só deva retomar sua produção de minério de ferro registrada em 2017 daqui dois ou três anos, após a poeira baixar. O desfecho de Brumadinho devem perseguir por muito tempo a mineradora.

E não foi só o minério de ferro que foi mal das pernas. O segundo principal produto da Vale no Brasil, o cobre, também. A commodity apresentou baixa na produção em Salobo (município de Marabá) e Sossego (município de Canaã dos Carajás) em torno de 20% em relação ao trimestre encerrado em dezembro e de quase 10% em relação ao primeiro trimestre de 2018.

Efeito Brumadinho: prejuízo de R$ 6,4 bi

No primeiro trimestre, a Vale assinalou prejuízo de R$ 6,4 bilhões, muito acima do esperado pelo mercado. A baixa contábil decorre sobremaneira da tragédia de Brumadinho, quando foi registrado o rompimento da barragem de rejeitos da mina de Córrego do Feijão, sinistro que matou quase 300 pessoas no final de janeiro. A mineradora diz ter feito provisões relacionadas com a tragédia da ordem de R$ 17,3 bilhões. Não se sabe, no entanto, o tamanho da dimensão financeira de Brumadinho, já que o efeito cascata vai desde indenizações a paralisações de produção em outras minas.

A Vale já retirou este ano do Pará, até o momento, R$ 13,1 bilhões em minérios, de acordo com a Agência Nacional de Mineração (ANM). Parauapebas (R$ 6,71 bilhões), Canaã dos Carajás (R$ 4,48 bilhões) e Marabá (R$ 1,72 bilhão) são os maiores redutos da multinacional no país, do ponto de vista da lavra econômica. As tomadas de decisão ocorrem no Rio de Janeiro, sede da empresa; em Nova Iorque, nos Estados Unidos, onde mantém ações em bolsa; e em Dalian, na China, onde o minério é precificado com bônus sobre o produto de alto teor saído do complexo minerador de Carajás.