Pará bate recorde de produção mineral em 2018 e encosta em Minas Gerais

Continua depois da publicidade

A picareta das mineradoras correu solta no Pará ao longo do ano passado. Exatos 163 empreendedores, entre pessoas físicas e jurídicas, detonaram no estado e extraíram de seu solo R$ 1.264,64 por segundo em recursos minerais. O Pará produziu ao todo R$ 38,3 bilhões em pelo menos 256 frentes de lavra registradas em títulos minerários. Isso corresponde a R$ 3,77 de cada R$ 10 que giraram no Brasil na extração de minérios.

A informação é da Agência Nacional de Mineração (ANM), que divulgou no último final de semana o balanço da movimentação mineral no país. Segundo maior produtor nacional, o Pará se aproxima de Minas Gerais, que explotou R$ 40 bilhões. No Brasil, foram minerados R$ 101,46 bilhões em 91 diferentes commodities.

Enquanto a extração paraense cresceu R$ 1,6 bilhão entre 2017 e 2018, a mineira despencou R$ 3,3 bilhões no mesmo período, facilitando a vida do Pará rumo ao pódio, que deve ser conquistado em 2019, com aumento da atividade extrativa na mina de S11D, em Canaã dos Carajás.

As operações minerais daqui cresceram 140,5% esta década, tendo partido de R$ 16,65 bilhões em 2010. Enquanto isso, a movimentação extrativa em Minas Gerais aumentou 30% no período. Os royalties gerados pelos bens minerais do Pará atingiram R$ 1,16 bilhão em 2018, ao passo que os royalties gerados em Minas totalizaram R$ 1,19 bilhão, a menor diferença da história.

Em 2010, o Pará tinha 18 commodities minerais geradoras de divisas. Encerrou o ano passado com 24 produtos, sendo o minério de ferro o mais próspero, com movimentações totais de R$ 25,21 bilhões, seguido de cobre (R$ 7,05 bilhões), alumínio (R$ 2,97 bilhões) e ouro (R$ 1,08 bilhão).

Minas Gerais continua, por enquanto, a produzir mais minério de ferro que o Pará. O estado do Sudeste movimentou R$ 30,77 bilhões, cerca de R$ 5,5 bilhões a mais que o estado do Norte. No entanto, é o produto paraense o mais demandado lá fora, com exportações que superam as mineiras em R$ 7,24 bilhões. A diferença — com Minas produzindo mais e exportando menos — deve-se ao fato de que considerável parte do minério do Sudeste abastece a produção siderúrgica nacional e, no caso do produto do Norte, por seu elevado teor, é vendido para fora por um preço melhor, com prêmios crescentes e com elevada demanda.

Municípios paraenses estão no topo

Dos 25 municípios brasileiros que mais movimentaram recursos da mineração, oito são paraenses. O topo é dominado por Parauapebas (R$ 18,16 bilhões), Canaã dos Carajás (R$ 8,9 bilhões) e Marabá (R$ 5,56 bilhões). Daí para frente, até a 11ª colocação, municípios de Minas Gerais se revezam, liderados por Congonhas (R$ 4,72 bilhões), Itabira (R$ 4,59 bilhões) e Nova Lima (R$ 4,53 bilhões).

Fora do circuito do Pará e de Minas, o município mais bem posicionado é o goiano Alto Horizonte (R$ 1,55 bilhão), na 12ª posição. Paragominas (17º, R$ 928,64 milhões), Oriximiná (18º, 836,95 milhões), Itaituba (20º, R$ 781,11 milhões), Curionópolis (22º, R$ 739,24 milhões) e Juruti (24º, R$ 668,1 milhões) completam o reforço paraense.

Ao longo de 2018, 58 localidades do estado produziram algum bem mineral, inclusive a capital, Belém, que movimentou R$ 10,2 milhões na produção de água mineral. São João do Araguaia foi, entre os mineradores, quem menos contabilizou operações, com apenas R$ 14.667 em lavra de quartzo.

Canaã ‘puxa tapete’ de Parauapebas

Em 2018, a mineradora multinacional Vale pisou no freio da produção em Parauapebas. O município — ou melhor, sua prefeitura — não sentiu os efeitos da baixa na atividade da empresa em nível local porque o aumento na arrecadação de royalties mascarou o resultado.

Em 2018, a Prefeitura de Parauapebas passou a se beneficiar da subida na alíquota incidente sobre o minério de ferro para a composição da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem). A alíquota passou de 2% para 3,5%, o que, de maneira prática, implicou aumento de 75% na arrecadação da Cfem, popularmente conhecida como royalty de mineração.

Não fosse o aumento tributário, o município de Parauapebas teria sentido os efeitos da diminuição de produção da Vale, cuja extração em termos físicos decresceu 10%, de 141,1 milhões de toneladas em 2017 para 127,1 milhões 2018, a maior baixa dos últimos três anos. Em termos financeiros, a queda da produção das minas da Serra Norte de Carajás, foi de R$ 3,55 bilhões de dólares — despencou de R$ 21,71 bilhões em 2017 para R$ 18,16 bilhões em 2018, o equivalente a paralisar sete projetos da dimensão de Serra Leste, em Curionópolis.

A baixa na produção de Parauapebas não teve efeito prático na contabilidade da Vale. Isso porque, embora ela tenha deixado de ganhar em Parauapebas, não necessariamente a empresa perdeu. Pelo contrário, a redução atende às necessidades no sentido de testar a força do projeto de extração de ferro S11D em Canaã dos Carajás, que está em fase de ramp-up, uma espécie de elevação programada da atividade extratora.

Vida do minério será conhecida em abril

Com muito minério sendo produzido por Canaã, as frentes de lavra em Parauapebas tiveram de pisar no freio para não sobrecarregar a demanda. Houve redução sutil até mesmo nas operações da empresa localizadas em Minas Gerais para seguir compensando o efeito de S11D.

Em 2019, é praticamente certo que as minas de Parauapebas vão continuar a baixar o ritmo para dar passagem a S11D, cuja meta é chegar a 75 milhões de toneladas, após alcançar a meta de 60 milhões em 2018.

No mês de abril, a mineradora Vale vai divulgar seu relatório anual referente a 2018 e informar ao mercado financeiro a estimativa de vida útil de todas as suas operações, no Brasil e no exterior. Com a atividade de Parauapebas no ano passado, é esperado que a previsão de exaustão das minas continue a ser 2040, período que considera corpos ainda não tocados, como N1 e N2. No atual ritmo, o conjunto das minas hoje exploradas, N4E, N4W e N5, serão exauridas em até 16 anos.