Maia alerta para riscos caso a base do governo continue a obstruir a pauta de votações

Presidente da Câmara atribui disputa pela direção da Comissão de Orçamento a causa do boicote

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Brasília – O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez um apelo para que a base de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) suspenda a obstrução da pauta de votações da Casa, sob o risco de piora na economia caso a o boicote continue.

“O Brasil vai explodir em janeiro se as matérias não forem votadas. O dólar vai a 7 reais, a taxa de juros de longo prazo vai subir, para um País que no final do ano vai ter 100% da sua riqueza em dívida”, advertiu.

A próxima sessão da Câmara está marcada para 17 de novembro, logo após o primeiro turno das eleições municipais. Na pauta estão medidas provisórias, projeto que incentiva a navegação de cabotagem e proposta de emenda à Constituição que cria quotas para mulheres em eleições de vereadores, deputados estaduais e deputados federais.

Maia participou de uma live promovida por um grupo de comunicação na segunda-feira (2), e criticou a postura do governo com relação à agenda econômica. O deputado afirmou que está mais preocupado agora com a situação do país do que em julho. “Hoje já não é mais uma questão do que a Câmara pretende fazer, mas do que nós podemos fazer em conjunto, Executivo e Legislativo”.

O presidente da Câmara disse que no pós-pandemia o país terá de enfrentar uma dívida alta aliada a uma pressão “muito grande” por conta dos índices de desemprego, que voltaram a crescer. Outra preocupação do deputado é com o orçamento público para 2021, o que classificou como “incógnita”. “A gente não sabe o que o governo quer, o que o governo vai propor. De alguma forma, o ministro Paulo Guedes está quase que isolado, sozinho na defesa, dentro do governo, da necessidade de se encontrar caminhos respeitando as regras atuais do jogo, começando pelo teto de gastos”, destacou.

O parlamentar lembrou que para aprovar o orçamento é preciso aprovar a Proposta de Emenda à Constituição n° 186, de 2019, a PEC emergencial e que há uma falta de organização com relação a agenda. “Estamos no limite do teto de gastos. Tenho uma expectativa muito grande e acho que é o caminho para o Brasil voltar a crescer”. Ao mesmo tempo, Maia disse estar pessimista com relação aos prazos das votações e apontou que a questão está “muito desorganizada”.

Nas últimas semanas as votações na casa têm sido adiadas em razão da obstrução feita por partidos de oposição e da base do governo. Avante, o PL, PP e PSD obstruem a pauta por causa de disputas na instalação da Comissão Mista de Orçamento (CMO) e da sucessão da Presidência da Câmara, que ocorrerá em fevereiro de 2021. O Centrão, liderado por Arthur Lira (PP-AL) pressiona pela escolha da deputada Flávia Arruda (PL-DF) para presidir a Comissão Mista do Orçamento (CMO). O grupo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), resiste e afirma que foi firmado um acordo para o presidente ser o deputado Elmar Nascimento (DEM-BA).

“Eu vi notas outro dia de que era para não deixar a pauta da Câmara andar, para esvaziar a minha presidência. Está esvaziando o governo. E quem vai explodir se a pauta da Câmara não andar não é o meu mandato, que acaba dia 1º fevereiro. Quem explode é o governo”, disse Maia sobre as obstruções.

O presidente da Câmara também falou sobre as disputas internas para presidir a CMO e que se “criou uma crise por nada” com o episódio. “Estamos caminhando a passos largos para o precipício, e todos estamos caminhando para isso juntos, todo o Brasil. E a gente brigando por algo que nem existe, que é o orçamento público”, afirmou.

Val-André Mutran – É correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.