Barragem de rejeitos de minério da Vale se rompe em Brumadinho

Helicóptero e viaturas do Corpo de Bombeiros estão no local para resgatar vítimas

Continua depois da publicidade

A barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Região Metropolitana, rompeu-se no fim da manhã desta sexta-feira (25). A barragem pertence à Vale. Prefeituras de cidades próximas ao Rio Paraopeba alertam os moradores que se mantenham longe do curso d’água.

Segundo as primeiras informações do Corpo de Bombeiros de Contagem, que atende o município, há vítimas e várias viaturas foram enviadas ao local, além de um helicóptero. Ainda segundo informações do Corpo de Bombeiros, a mineradora informou que apenas a área interna foi atingida.

Em nota, a Vale confirmou o rompimento da barragem. Há indicações de que os rejeitos atingiram a área administrativa da companhia e parte da comunidade da Vila Ferteco. Os assessores informam que ainda não há confirmação sobre feridos no local. A Vale acionou o Corpo de Bombeiros e ativou o seu Plano de Atendimento a Emergências para Barragens. “A prioridade total da Vale, neste momento, é preservar e proteger a vida de empregados e de integrantes da comunidade”, acrescentam.

Uma jovem moradora de Nova Lima, e 17 anos, informou que o pai dela “escapou de morrer” no rompimento da barragem em Brumadinho. “Agora estamos tranquilos porque meu pai entrou em contato com a minha mãe e disse que está tudo bem”, informou a adolescente. “Ela informou que o pai trabalha há muitos anos na mina como técnico, mas ela não soube dar mais detalhes sobre vítimas.

Moradora do Bairro Araguaia, na Região do Barreiro, Marta Amorim tem familiares na região atingida e está a caminho para ajudá-los. ” Minhas irmãs já saíram de casa, pegaram as roupas e os documentos só e saíram. Agora que eu estou indo pra lá,mas dizem que não estão deixando ninguém entrar na cidade não. Mas agora que eu estou indo, vou passar por uma outra estrada de terra, aí que vou chegar lá, mas minhas irmãs já estão na roça, graças a Deus”, disse.

Por volta de 13h30, a Prefeitura de Brumadinho alertou em redes sociais para a população da cidade manter distância do lei do Rio Paraopeba.

A Prefeitura de Juatuba, cidade vizinha de Brumadinho, também emitiu um alerta na tarde desta sexta-feira. A administração direcionou o aviso aos moradores do Bairro Francelinos, que beira o Rio Paraopeba. A Defesa Civil de Juatuba e o Conselho Municipal De Desenvolvimento Ambiental (Codema) estão no local solicitando a retirada e máxima atenção da população, pois ainda não se sabe a gravidade do desastre.

A Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) enviou na tarde desta sexta-feira a Brumadinho uma equipe com quatro pessoas, que vão fazer levantamento sobre o licenciamento ambiental e tomar outras providências após o rompimento da Barragem Córrego dos Feijões, da mineradora Vale. A equipe inclui dos técnicos do Núcleo de Emergências Ambientais e mais duas da Fundação Estação do Meio Ambiente.

DEFESA CIVIL 

Há informações de que o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS) colocou a Defesa Civil da capital à total disposição do posto de comando que deve ser montado na região de Brumadinho. O órgão informou que pode colocar até 70 agentes disponíveis no local. O secretário Nacional de Proteção e Defesa Civil, o coronel Alexandre Lucas, que já coordenou o órgão em BH, também está se deslocando de Maceió (AL) para Brumadinho.

Mina seria ampliada

A secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) informa que a Vale pretendia ampliar a mina do Córrego do Feijão por meio do licenciamento de unidade de tratamento de minério a seco. Esta mina e a de Jangada são contíguas e estão localizadas a cerca de 7 quilômetros do Parque Estadual da Serra do Rola Moça. Ambas pertencem à mineradora.

Veja mais detalhes sobre o licenciamento e as intervenções que estavam previstas para os locais:

“A respeito dos processos de licenciamento das minas de Jangada e Córrego do Feijão, a Semad informa que o Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) aprovou, em 11 de dezembro, as licenças de operação dos dois empreendimentos, com oito votos favoráveis; um voto contrário (Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas – Fonasc); duas abstenções (Ibama e Cefet) e uma ausência (DNPM).

Os dois processos, pautados na ocasião na reunião da Câmara de Atividades Minerárias (CMI) do Copam, não tratam de licenciamento de barragens, mas sim de uma mudança no sistema de disposição de rejeitos, alterando de um modo considerado como de maior risco (barragem) para um modo de maior controle operacional, por meio de empilhamento e disposição em cava de mineração confinada (sem barragem). O empreendedor pretende, nesta licença, reaproveitar o rejeito disposto em barragem, reduzindo este volume e, paulatinamente, reduzindo também a altura da barragem.

No caso da Mina da Jangada trata-se de ampliação de cava; pilhas de rejeito/estéril e estradas para transporte de minério/estéril, externa ao limite do empreendimento. Sobre a mina do Córrego do Feijão, trata-se de expansão das atividades, por meio do licenciamento de unidade de tratamento de minério a seco; pilhas de rejeito/estéril; disposição de rejeito em cava, sem necessidade de construção de barramento; reaproveitamento de bens minerais dispostos em barragem; e instalação de mineroduto/rejeitoduto.” Tragédia como essas não são novidade em Minas Gerais, infelizmente. Há três anos, o rompimento da Barragem de Fundão, em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, na Região Central, deixou 19 mortos.

HISTÓRICO

A maior tragédia socioambiental da história do Brasil tem 22 pessoas e mais quatro empresas – Samarco Mineração S.A, BHP Billinton Brasil, a Vale e a VOGBR Recursos Hídricos e Geotecnia – denunciadas pelo Ministério Público Federal (MPF). Ninguém foi punido até hoje. Dos acusados, 21 foram enquadrados no crime de homicídio qualificado doloso, ou seja, quando se assume o risco de matar, pela perda de 19 vidas.

Os riscos não controlados provocaram grandes tragédias no estado: em São Sebastião das Águas Claras (Macacos), em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em 2001; em Cataguases, em 2003 e Miraí, em 2007, ambas na Zona da Mata; e Itabirito, na Região Central, em 2014. Os acidentes causaram não só a degradação ambiental nas áreas, como deixaram mortos, feridos, centenas de famílias desabrigadas e muita dor e sofrimento nas comunidades.

fonte: EM