Audiência na Câmara debate indústria farmacêutica amazônica

Autor da proposta, o deputado Edmilson Rodrigues quer saber a importância das propriedades farmacêuticas provenientes da biodiversidade na Amazônia.

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Brasília – O deputado federal Edmilson Rodrigues (PSOL-PA) apresentou e teve aprovado na Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia (CINDRA) da Câmara dos Deputados requerimento para debater a importância das propriedades farmacêuticas provenientes da biodiversidade na Amazônia e como tal assunto reflete positivamente no seu desenvolvimento, a ser realizado na quinta-feira (5), na Câmara dos Deputados.

Segundo o Laboratório Nacional de Biociências do Brasil (LNBio), na balança comercial farmacêutica no Brasil o setor tem déficit estimado em US$ 7 bilhões ao ano. Para Edmilson Rodrigues, atualmente está cada vez mais comum na sociedade a procura por produtos farmacêuticos naturais visando melhor qualidade de vida em conjunto com a excelência de tratamento diversos, seja para área dermatológica ou diversas áreas que tratam de patologias.

“Nos últimos anos, diversos estudos científicos abordaram os benefícios existentes no patrimônio natural presente na Amazônia, debatendo inclusive sobre a maneira que os povos tradicionais e indígenas utilizam deste patrimônio para as mais diversas mazelas, tendo como destaque análises feitas para tratamentos oncológicos”, destaca o texto do requerimento de Edmilson Rodrigues.

Potencial incalculável

A Agência do Fundo de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp) firmou recentemente uma parceria entre o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), o Aché Laboratórios e a empresa Phytobios com o objetivo de identificar substâncias da biodiversidade brasileira que permitam desenvolver novos fármacos para as áreas de oncologia e dermocosmético.

O investimento inicial é de R$ 10 milhões, sendo a metade desse valor paga pela Aché, 33% pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e 17% a encargo do CNPEM. A Phytobios executa as expedições para coleta das amostras biológicas a serem testadas. Como o CNPEM é uma unidade da Embrapii, contratualmente trata-se de uma divisão 50% Aché e 50% Embrapii.

A parceria atuará em um velho problema da indústria farmacêutica: a dificuldade de descobrir novos princípios ativos para fármacos. Embora novos medicamentos sejam lançados, há uma queda significativa no número de novas estruturas moleculares que possam ser usadas como medicamentos. Isso limita a inovação na indústria.

“Descobrir novas substâncias envolve risco porque, às vezes, o retorno financeiro da descoberta acaba não compensando. Por isso, é mais interessante para as farmacêuticas migrarem para um modelo de inovação aberta, em vez de criar novos departamentos e bibliotecas próprias de biodiversidade. Já para a Phytobios, a parceria, além de impulsionar o nosso trabalho, também nos permite diversificar os parceiros de inovação, no que tange à plataforma criada em parceria com o LNBio (Laboratório Nacional de Biociências, que integra o CNPEM)”, diz Cristina Ropke, presidente da Phytobios.

Há três anos, a empresa criou, em parceria com o CNPEM, uma biblioteca química com 1,5 mil amostras. Em uma triagem-piloto foram encontrados 500 extratos vegetais, que resultaram em 40 hit fractions, ou seja, possíveis novas substâncias bioativas em extratos vegetais.

Foram convidados para a audiência na Câmara o assessor do Conselho Federal de Farmácia Welligton Barros da Silva; a chefe de Laboratório de Produtos Naturais da Fundação Fiocruz, Maria Behrens; o procurador-regional da República da 1ª Região do Ministério Público Federal, Felício de Araújo Pontes Jr.; o coordenador do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), João Vicente Braga de Souza; e a presidente da Associação das Mulheres Indígenas da Comunidade Indígena de Feijoal do Estado do Amazonas, Lindalva Tikuna.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu, em Brasília.