Artigo: Termômetro Uber

Com 22 milhões de usuários em terras brasileiras, o equivalente a cerca de 10% da população atual do país, o serviço já virou moda

Continua depois da publicidade

Oficialmente fundada em junho de 2010 nos Estados Unidos, a Uber hoje está em mais de 700 cidades em 63 países e cresce a cada dia. No Brasil, encontra-se em mais de uma centena de localidades e tem mais de 600 mil “parceiros” — é assim que a Uber costuma referir-se a seus motoristas.

Com 22 milhões de usuários em terras brasileiras, o equivalente a cerca de 10% da população atual do país, ela vem crescendo e trazendo consigo incontáveis questionamentos em várias áreas, o que faz dela ter como sua principal característica o método duvidoso e controverso de operação em seus mercados.

Sem entrar no mérito já discutido pelas autoridades governamentais brasileiras, a Uber se especializou em ingressar em países com recessão econômica, valendo-se de faltas e ou falhas de legislações voltadas às tecnologias mobile e ramificações da internet; de altos índices de desemprego e da precarização das condições de trabalho; de alto grau de endividamento da população; e de inacabáveis incentivos aos dois principais pilares da Uber, “parceiros” e usuários, sem contar as especializadas assessorias jurídicas que traziam blindagens e tempo para começar as operações.

O grupo não media esforços para começar sua empreitada arriscada, problemática e cheia de percalços. Toda essa estratégia, em conjunto com os péssimos indicadores de um país, faz deste a presa certa para a Uber persuadir qualquer um em seu favor.

Poucos anos depois, já com a maioria das batalhas judiciais vencida e trazendo benefícios para os usuários com o seu método, os “parceiros” se veem no revezamento da longa dança do entra e sai do “negócio Uber”, enquanto as estatísticas de motoristas são engordadas. É nesse cenário que os primeiros sintomas começam a aparecer.

A Uber chegou ao Brasil em maio de 2014, fincando chão na cidade do Rio de Janeiro e, logo no mês seguinte, também se instalando na cidade de São Paulo, as duas metrópoles globais brasileiras. Naquele momento, o país estava prestes a começar a Copa do Mundo e, por outro lado, vivia o início de uma crise econômica com graves consequências sociais, sobretudo no mercado de trabalho.

Em terras tupiniquins, já não resta muito a fazer, depois da recente batida de martelo do Supremo Tribunal Federal legalizando a manutenção das atividades do grupo por aqui, indo na contramão do entendimento de países como Dinamarca e Alemanha. Não importa a nacionalidade, a Uber e seus outros “colegas” (demais aplicativos de transporte de passageiros) trazem grandes prejuízos ao transporte das cidades — sem distinção de classe ou tamanho de suas operações — onde estão instalados.

Com toda certeza, quanto maior for a operação dos aplicativos de transporte de passageiros, mais precária estará a economia daquela região. É bom ficar de olho no termômetro Uber: ele é inversamente proporcional ao da economia.

Por: Bruno Henrique Pimenta Saboya
Técnico Estatístico;
Técnico em Controle Ambiental;
Socorrista;
Motorista profissional há mais de 11 anos;
Gestor na área de transportes e turismo há mais de 6 anos.

1 comentário em “Artigo: Termômetro Uber

  1. Leandro Burlamaqui Responder

    Com todo o respeito ao cabedal de qualificações do articulista, quem sabe onde o sapato aperta é quem o calça, amigo. Adaptando o ditado ao Uber, quem sabe qual o melhor transporte urbano é quem se locomove diariamente nas cidades. E nesse ponto, o Uber oferece várias vantagens das quais falar aqui seria chover no molhado. Porém, a maior delas, aliada ás outras, é o preço. E nesse ponto, especialmente em tempos de crise, o Uber é imbatível. Quanto ao transporte das cidades, esses que se modernizem, se tornem mais confortáveis, tenham tarifas mais acessíveis, sejam mais seguros, empreguem condutores mais educados. Onde o tempo para, o novo vem e toma o lugar dele, com crise ou sem crise. Veja bem, se em Marabá e Parauapebas, cidades mais desenvolvidas da região, houvesse ônibus limpos, com assentos confortáveis, com ar refrigerado, que servissem todas as rotas, sem exceção, com horários nos quais o trabalhador pudesse confiar e tarifas razoáveis, teríamos assistido a multiplicação de mototáxis, táxis-lotação e – agora – de Uber e congêneres?

Deixe seu comentário

Posts relacionados