Ananindeua tem pior oferta de serviços do Brasil, diz estudo

E não está sozinho: Belém é 3º pior e Santarém, 8º pior. Índice de oferta de políticas públicas básicas reflete qualidade de vida equivalente à dos piores países africanos. É atraso mesmo.

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Um dos 40 piores em saúde, 4º pior em educação, 3º pior em segurança e pior de todos em saneamento básico. Juntando todas essas posições ruins e batendo no liquidificador do desenvolvimento social, o resultado não poderia ser outro: Ananindeua é, entre os 100 municípios mais populosos do Brasil, o pior de todos na oferta de serviços essenciais básicos. E tão ruim quanto isso é saber que ele está virando a década da mesma forma como iniciou: no último lugar.

As informações foram levantadas com exclusividade pelo Blog do Zé Dudu, que analisou um amplo estudo recém-lançado pela consultoria Macroplan, entidade que elabora anualmente a pesquisa que mede os desafios da gestão dos principais municípios brasileiros e atribui uma nota que mensura, de maneira prática, o avanço de cada lugar, de modo a compará-los tanto entre eles quanto em série histórica. O Índice de Desafios da Gestão Municipal (IDGM) vai de 0 a 1, e quanto mais próximo de 1, mais avançado está o município no oferecimento de políticas públicas a sua gente.

A nota geral de Ananindeua é 0,421. Ela piorou 12 posições na década. Se fosse um país, Ananindeua ostentaria — transpondo-se a nota do IDGM para os parâmetros da Organização das Nações Unidas (ONU) que estabelecem o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) — a 5ª pior qualidade de vida do globo, à frente apenas de Níger (0,377), República Centro-Africana (0,381), Chade (0,401) e Sudão do Sul (0,413).

Nos pilares da pesquisa, a nota do município varia de pífio 0,150 em saneamento a 0,574 em saúde, área em que o município se sai melhor. É tudo muito distante da realidade do lugar mais avançado do país em serviços públicos, o paulista Piracicaba, com nota 0,757. Historicamente violento, Ananindeua perdeu uma pontuação considerável na área de segurança em relação ao início do índice, entre 2007 e 2008. Mas é em saneamento básico que o município não avança de forma alguma, sendo o pior dos piores há mais de uma década.

Vexame doméstico

Mas, se serve de consolo, Ananindeua não está sozinho na lanterna dos afogados. Outros dois paraenses passam vergonha nacional. Belém, capital do estado, é simplesmente o 3º pior município entre 100 na oferta de serviços, só atrás do vizinho metropolitano e da vizinha Macapá, capital do Amapá. Com nota 0,463, Belém perdeu 11 posições desde 2010. Na prática, conseguiu piorar ao longo dos anos o que já era muito ruim.

A situação das condições de serviços na capital são muito piores que a de municípios do Nordeste e, se o IDGM fosse um ensaio metodológico equivalente ao IDH, Belém ofereceria hoje condições de vida a sua população até inferiores à da Etiópia, um dos países africanos com os maiores bolsões de miséria do globo. O IDH da Etiópia calculado pela ONU para o ano de 2018 era de 0,470.

O outro paraense é Santarém, 8º pior do Brasil na oferta de serviços e que perdeu quatro posições desde 2010. Com nota 0,495 atribuída pela Macroplan, Santarém tem oferta de serviços que se refletem a uma qualidade de vida igualmente africana, equivalente ao do Djibuti. No outro extremo, as cidades do estado de São Paulo dominam pela excelência de serviços distribuídos à população, posicionando-se em colocações que as cidades paraenses certamente demorariam 20 anos para chegar, se decidissem fazer a diferença a partir deste instante. Os resultados do estudo da Macroplan, que compila diversos indicadores, é uma prévia do que o censo demográfico deste ano deve apurar no Pará, em termos de condições de vida e progresso social. O Blog tem chamado constantemente a atenção dos gestores públicos para isso, mas entra e sai ano e nada muda. O espírito de atraso parece ter se naturalizado no Pará, e nem as cidades que deveriam ser exemplos, por serem maiores e mais velhas, fazem o dever de casa. A julgar pelos resultados do levantamento da Macroplan, os últimos dez anos foram uma década perdida, ao menos em se tratando de desenvolvimento, para os municípios paraenses