Agricultor paraense na expectativa pela liberação da patente do café de açaí

O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) ainda não divulgou oficialmente o registro, mas o produtor, que já foi informado da aprovação, comemora a conquista.

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É com ansiedade do tamanho da área dos açaizais do Pará que um casal de agricultores de Parauapebas aguarda pela publicação oficial do registro de uma patente que promete dar mais sabor à vida deles e de muita gente no município: a patente do café de açaí, que foi concedida nesta sexta-feira, 4, pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), conforme informações do agricultor Roberto Carlos Cunha da Silva, casado com Perina Rodrigues, a descobridora do exótico alimento.

À reportagem, Roberto concedeu entrevista por telefone. E não escondia a expectativa. “A gente está aguardando o processo para a publicação [do registro da patente]. Está todo mundo aqui em casa muito otimista e na batalha para montar o espaço”, disse ele, referindo-se ao local onde, com Perina, irá vender e negociar o café de açaí.

Mas, antes disso, o casal ainda precisará dar alguns passos, como obter o SIM da Vigilância Sanitária de Parauapebas, que nada mais é do que o selo do Serviço de Inspeção Municipal o qual assegura a procedência e a qualidade do alimento. Depois, é buscar os selos estadual (SIE) e federal (SIF), tudo a seu devido tempo.

A Universidade Federal do Pará (UFPA), onde o produto foi analisado, afirma que café de açaí é bastante energético e saudável. O casal ainda vai submeter o alimento ao crivo de um nutricionista. Querem fazer tudo como manda o figurino para colher boas safras porque interesse de empresários o alimento já tem despertado, e não apenas do Pará.

Animado, Roberto contou que já foi procurado por empresários de pelo menos quatro estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais. “De São Paulo, foram cinco empresários; do Rio de Janeiro, um; e de Minas, três”, enumerou o agricultor, tentando lembrar de mais interessados.

Empresários em Parauapebas

Quem também não esconde o ânimo com a patente do café de açaí é o prefeito Darci Lermen, apontado por Roberto e Perina como o grande propulsor do produto. “Ele tem sido o nosso garoto propaganda”, diverte-se Roberto, para contar que bastou Darci conhecer o alimento para determinar à Secretaria Municipal de Produção Rural (Sempror) que desse todo o apoio e suporte necessários a fim de que o casal de agricultores colocasse o café de açaí no mercado.

E assim o exótico e curioso alimento foi apresentado em 2017 na Feira Agropecuária de Parauapebas (FAP) e, em setembro do ano passado, foi destaque em São Paulo, na 46ª Abav Expo Internacional de Turismo, a maior feira da América Latina. Roberto garante: “A aceitação do café de açaí foi muito boa”. Ele ainda calcula que 95% das pessoas que degustaram aprovaram o sabor do alimento.

Nesta sexta-feira, assim que foi informado sobre a patente, o prefeito começou a se articular para a comercialização do novo alimento. “Hoje mesmo fiz contatos com pessoas que podem nos ajudar, que possam nos dar orientação mais firme, mais clara daquilo que pode virar negócio. Creio que seja uma coisa muito boa, que pode dar resultado extraordinário. Olha o tanto de açaí que é produzido no Pará. Então, se nós industrializarmos, a ação se transformará em um negócio formidável, que vai gerar emprego e principalmente renda para o nosso povo”, projeta o prefeito.

Na próxima semana, Darci espera receber em Parauapebas um grupo de empresários da área de café alternativo, que já operam no Centro-Sul do país, para conversar sobre a comercialização do café de açaí. “A patente é muito importante porque dá condições para que a gente agora possa fazer a estruturação, as adequações conforme determina a Vigilância Sanitária; nos dá possibilidade agora de instalar uma empresa que venha comercializar isso legalmente”, diz o prefeito.

Eu, milionário?

Para Roberto e Perina, tudo tem sido “muito gratificante”. Afinal, eles viveram 27 anos produzindo café de açaí. “Foi a necessidade que obrigou a gente”, lembra Roberto, que sempre viveu na vila Paulo Fonteles com a companheira, com quem teve quatro filhos – dois homens e duas mulheres.

A vida cheia de dificuldades do casal, que não tinha dinheiro para comprar nem café nem açúcar, está ficando no passado.

“Com o patenteamento, o senhor acha que vai ficar rico, seu Roberto?”, perguntou a reportagem do Blog do Zé Dudu. “Rico já sou. Só não tenho dinheiro”, diz ele, entre gargalhadas, para afirmar: “Não tenho nenhuma pretensão de ficar milionário”.

Açaí

O Pará é, de longe, o maior produtor de açaí do mundo. Segundo o Censo Agro, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 48 mil propriedades colhem mais de 50 sacas de açaí anualmente. A área plantada no Pará ocupa um espaço de 25,2 mil quilômetros quadrados, quase um estado de Alagoas.

Em 2017, segundo o Instituto, a pesquisa “Produção Agrícola Municipal (PAM)” identificou o município de Igarapé-Miri como o “Rei do Açaí” no globo. Por lá, o produto movimentou 99,5% da economia local e fez circular R$ 1,82 bilhão.

Mesmo não estando entre os maiores produtores do fruto no estado, Parauapebas promete gerar bastante receita com o açaí no futuro, despertando uma cadeia de valor que certamente virá com o registro da patente.