Vale: nem a maior, nem a melhor

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A Vale deixou o pódio das mineradoras diversificadas. No mês passado, foi superada, em valor de mercado, pela Glencore, que nem precisou acionar o DRS para fazer a ultrapassagem.

A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) era a quarta maior mineradora do mundo quando, na manhã do dia 24 de outubro de 2006, acordou em segundo lugar, logo atrás da poderosa BHP Billiton. Naquele dia, anunciou a compra de 76% das ações da canadense Inco, a segunda maior produtora global de níquel.

A australiana BHP ainda é a primeira das mineradoras quando se fala em valor de mercado, já a Vale, como é conhecida desde 2007 a CVRD, voltou para a quarta colocação no mês passado.

O valor de mercado da mineradora brasileira era, na sexta passada, algo como US$ 65 bilhões. Enquanto isso, em Londres, a Glencore marcou quase US$ 79 bilhões. Agora considerada mais mineradora do que trading, a Glencore não para de crescer em valor desde abril. De lá para cá, ganhou uns 18% em valor de mercado.

Àqueles não familiarizados com o termo, explico que o valor de mercado, ou market cap, se refere à soma das ações da empresa multiplicada pelo valor de fechamento do mercado de um determinado dia. E os números estão lá disponíveis gratuitamente no website do Financial Times.

A Glencore deu um salto quando adquiriu a Xstrata em 2013. A Vale até cogitou adquirir a Xstrata em 2008 (o que poderia ter sido o fim da Vale, considerando a recessão que atingiu o mercado no fim de 2008 e 2009), para ultrapassar a BHP e se tornar a maior mineradora da galáxia. Sim, essa era a meta da Vale. “Queremos ser a maior mineradora do mundo”, disse Roger Agnelli, em julho de 2008, quando a Vale estreou na Euronext Paris, como a primeira empresa brasileira listada naquela bolsa.

Como não deu certo adquirir a Xstrata, a Vale investiu em todas as letrinhas da tabela periódica mais energia, fertilizantes, bauxita, diamante, aço, mais minério de ferro e, é claro, muito carvão e petróleo, mercados em que a BHP, dona da posição almejada pela Vale, tinha muito sucesso.

A mineradora brasileira esquadrinhou o globo. Falava de Argentina, Colômbia, Venezuela, Bolívia, Mongólia, Etiópia, Gabão, Guiné, países onde iniciou projetos que nunca foram concluídos.

Desde aquela declaração em Paris, nada parece ter dado muito certo. E olha que foi no mesmo ano em que Eike Batista disse que ia ultrapassar o Bill Gates e se tornar o bilionário dos bilionários. O que também não deu certo.

Veio a crise financeira de 2008. Bancos quebraram no mundo todo, principalmente dos EUA, em que o Lehmann Brothers e a seguradora AIG fecharam definitivamente as portas. O valor das ações despencou também em todas as bolsas e somente voltaram a se recuperar um ano depois.

Agnelli acalentou o desejo de ser o número 1 até o último momento em 2010. Com a mudança de governo, ele foi substituído por Murilo que, com a mesma agilidade que tem na entrega dos projetos, demorou um ano e uns quebrados para deixar de querer ser a “maior” para ser a “melhor”.

Isso mostra bem onde anda a cabeça do Murilo. Em 1969, quando os postos Atlantic lançaram a campanha “quem não é o maior tem que ser o melhor”. Atlantic serviço nota 10!

Resultado: não é a maior nem a melhor. É claro que os números continuam muito bons. Mas já foram melhores. No longínquo ano de 2008, a Vale faturava muito mais do que a BHP e tinha um lucro quatro vezes maior.

Nos últimos 12 meses, o Ebitda ajustado da Vale foi metade do Ebitda da BHP. Já o lucro, foi de US$ 8 bi, contra US$ 13,4 bi da BHP. O sonho fica cada vez mais distante.

E para piorar, os projetos de expansão da Vale atrasavam. E continuam atrasando. O projeto Ferro Carajás S11D, que deveria ter começado a produzir em fevereiro deste ano, ficou para o segundo semestre de 2016. O que custou muito caro para a Vale.

Enquanto isso, do outro lado do mundo, a BHP anuncia que a expansão de suas operações em Western Australia irão um pouco além do planejado. Em vez de ampliar de 225 milhões para 270 milhões de toneladas por ano, os australianos miram agora em 290 Mtpa com um detalhe importante: as 65 Mtpa vão ter uma intensidade de capital abaixo de 50 dólares por tonelada. Eles não estão parados, querem continuar sendo os maiores.

Em tempo, a BHP vale US$ 172 bilhões; a Rio Tinto, US$ 99 bilhões. Estas são a primeira e a segunda maiores mineradoras. Em quinto lugar, vem a Anglo com uns US$ 35 bilhões. A Vale ainda tem uma oportunidade de voltar ao segundo lugar. Basta comprar ou se fundir com a Anglo. (NM)